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Vítima de tiroteio preparava aniversário de 1 ano do filho
Segurança ia distribuir convites quando foi baleado
Flagrante de tiro em Rogério Cavalcante foi publicado na Primeira Página da Folha, ontem; ele está em estado grave
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Era para ser um dia de alegria na vida do segurança Rogério da Costa Cavalcante,
34. Na noite de sexta, saiu de
casa, no conjunto de favelas
da Maré, o campo minado do
conflito entre traficantes e
policiais na zona norte do Rio
de Janeiro, com algumas dúzias de envelopes.
Eram os convites para a
festa do primeiro ano de Mateus, seu único filho que fez
aniversário ontem.
No meio do caminho, um
tiroteio entre soldados. De
um lado, os do Exército; do
outro, os do tráfico.
Rogério caiu baleado com
uma bala de fuzil em frente
aos fotógrafos, a quem pediu
socorro antes de perder a lucidez. A foto, publicada na
Primeira Página de ontem da
Folha, é chocante. A situação nas favelas da Maré é
chocante. A família está em
estado de choque.
O tiro entrou pelas costas,
rasgou o intestino e o pâncreas e saiu pelo abdômen
-ele corre risco de morte.
Está em estado gravíssimo, na UTI do hospital Getúlio Vargas. Perdeu muito
sangue. Segundo os médicos, só não morreu porque é
parrudo -pesa mais de cem
quilos em 1,80m de altura.
Como perdeu muita pele,
o corte na barriga não pode
ser fechado. Ele deve passar
por nova cirurgia hoje.
Acostumado a manejar armas, Rogério, diz a família,
faz cursos de capacitação regularmente para manter a licença, mas está desempregado há dois anos, depois de
já ter trabalhado em portas
de bancos e de shoppings.
É casado há 16 anos. "Estou a base de calmantes.
Cancelei a festa, não tem clima", disse a mulher, Aparecida Cavalcante, 32.
"Ele estava no lugar errado, na hora errada. Para sobreviver agora, só a mão do
Senhor", afirmou o sargento
da Marinha Ricardo Andrade, cunhado da vítima.
A família soube que Rogério havia sido baleado quatro
horas depois, pela internet.
O amigo mais próximo, também padrinho do filho de um
ano, o reconheceu em fotos
num site noticioso.
"Fui o primeiro a dar a notícia e fui ao hospital saber se
estava vivo. Passei por dentro da Vila Cruzeiro, tudo escuro, tudo sujo, um clima
horrível. Agora era para estarmos comemorando, em
vez de chorar", disse o estagiário Diogo Rodrigues, 27,
compadre de Rogério.
"É uma fatalidade, no dia
do aniversário do garoto,
com a festa programada", diz
a mulher. A comemoração
seria num bufê infantil, ao lado de um batalhão da PM.
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