São Paulo, domingo, 28 de novembro de 2010

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Vítima de tiroteio preparava aniversário de 1 ano do filho

Segurança ia distribuir convites quando foi baleado

Flagrante de tiro em Rogério Cavalcante foi publicado na Primeira Página da Folha, ontem; ele está em estado grave

VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Era para ser um dia de alegria na vida do segurança Rogério da Costa Cavalcante, 34. Na noite de sexta, saiu de casa, no conjunto de favelas da Maré, o campo minado do conflito entre traficantes e policiais na zona norte do Rio de Janeiro, com algumas dúzias de envelopes.
Eram os convites para a festa do primeiro ano de Mateus, seu único filho que fez aniversário ontem.
No meio do caminho, um tiroteio entre soldados. De um lado, os do Exército; do outro, os do tráfico.
Rogério caiu baleado com uma bala de fuzil em frente aos fotógrafos, a quem pediu socorro antes de perder a lucidez. A foto, publicada na Primeira Página de ontem da Folha, é chocante. A situação nas favelas da Maré é chocante. A família está em estado de choque.
O tiro entrou pelas costas, rasgou o intestino e o pâncreas e saiu pelo abdômen -ele corre risco de morte.
Está em estado gravíssimo, na UTI do hospital Getúlio Vargas. Perdeu muito sangue. Segundo os médicos, só não morreu porque é parrudo -pesa mais de cem quilos em 1,80m de altura.
Como perdeu muita pele, o corte na barriga não pode ser fechado. Ele deve passar por nova cirurgia hoje.
Acostumado a manejar armas, Rogério, diz a família, faz cursos de capacitação regularmente para manter a licença, mas está desempregado há dois anos, depois de já ter trabalhado em portas de bancos e de shoppings.
É casado há 16 anos. "Estou a base de calmantes. Cancelei a festa, não tem clima", disse a mulher, Aparecida Cavalcante, 32.
"Ele estava no lugar errado, na hora errada. Para sobreviver agora, só a mão do Senhor", afirmou o sargento da Marinha Ricardo Andrade, cunhado da vítima.
A família soube que Rogério havia sido baleado quatro horas depois, pela internet. O amigo mais próximo, também padrinho do filho de um ano, o reconheceu em fotos num site noticioso.
"Fui o primeiro a dar a notícia e fui ao hospital saber se estava vivo. Passei por dentro da Vila Cruzeiro, tudo escuro, tudo sujo, um clima horrível. Agora era para estarmos comemorando, em vez de chorar", disse o estagiário Diogo Rodrigues, 27, compadre de Rogério.
"É uma fatalidade, no dia do aniversário do garoto, com a festa programada", diz a mulher. A comemoração seria num bufê infantil, ao lado de um batalhão da PM.


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