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SAÚDE
Medida prevê transferência de tecnologia de anti-retrovirais da Merck para unidades estatais de produção de remédios
País negocia pagar royalties a laboratório
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo brasileiro negocia
com o laboratório Merck Sharp &
Dohme o licenciamento voluntário do medicamento anti-retroviral efavirenz, usado no coquetel
para tratamento da Aids. No país,
50 mil pacientes utilizam esse remédio duas vezes por dia.
O licenciamento funcionaria assim: a indústria farmacêutica cederia tecnologia para que os laboratórios estatais nacionais produzissem a droga e, em contrapartida, o governo brasileiro pagaria
royalties sobre o preço de comercialização. Ainda não está definido o percentual desses royalties e
nem o tipo de licença.
Segundo Cristina d'Almeida,
assessora da Coopex (Cooperação Externa), unidade responsável pelas ações de cooperação internacional do Programa Nacional de DST e Aids, o ministério está tentando negociar também
com os laboratórios Roche e Abbot, que produzem as drogas nelfinavir e lopunavir, respectivamente, que fazem parte do coquetel anti-Aids, mas ainda não teve
uma resposta.
"Qualquer acordo para transferência de tecnologia é um processo muito difícil e demorado. Só o
fato de a Merck ter topado negociar [o licenciamento voluntário]
já é uma boa notícia."
De acordo com João Sanches,
diretor de comunicação da
Merck, foi montado um grupo de
estudo envolvendo integrantes do
governo e do laboratório. "Estamos na fase inicial. É um processo
que envolve aspectos técnicos,
econômicos e financeiros", diz.
O licenciamento voluntário está
sendo negociado como uma tentativa de baratear mais os custos
dos medicamentos contra a Aids,
de acordo com Ricardo Pio Marins, diretor-assistente do Programa Nacional de DST e Aids.
Neste ano, o Ministério da Saúde conseguiu, após quase um ano
de negociações, firmar um acordo
com os laboratórios que permitiu
uma redução de quase 37% do
gasto total com os anti-retrovirais. A previsão é de gastar R$ 508
milhões -o menor gasto desde
1999- neste ano para atender a
148.500 pacientes, 20.500 a mais
do que em 2003.
Em dezembro passado, em razão das divergências em relação
ao preço dos remédios, o Ministério da Saúde ameaçou fazer o licenciamento compulsório (sem a
concordância da empresa) do anti-retroviral da Roche. Com o
acordo, a medida não foi adotada.
"O uso do licenciamento compulsório é uma medida extrema,
quando estiverem esgotadas todas as outras tentativas de negociação", afirma Marins.
A ameaça, porém, provocou um
alvoroço na indústria farmacêutica, que alega que, em grande escala, medidas como o licenciamento
compulsório ou a quebra de patentes podem emperrar o desenvolvimento de novas pesquisas.
Ontem, o assunto foi discutido
em debate promovido pela ONG
americana "Projeto de Responsabilidade para a Aids". Segundo
Abner Mason, diretor da ONG e
consultor do governo Bush para
assuntos de Aids, desde 1997 houve uma queda de 25% no número
de empresas que pesquisam a cura da Aids.
Para Mason, o Brasil tem o direito e o dever de proteger a saúde
e o bem-estar do seu povo, mas, se
decidir adotar o licenciamento
compulsório ou a quebra de patentes, estará colaborando para
que as indústrias farmacêuticas
desistam de investir em novas
drogas anti-Aids. "Temos que encontrar alternativas para salvar
nossos pacientes hoje. O resto a
gente vê depois", disse Marins.
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