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Volta ao país traz misto de alegria e desânimo
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
Ao chegarem ontem a Belo Horizonte, os primeiros brasileiros
deportados dos EUA demonstravam, ao mesmo tempo, alegria
por reencontrarem a família e desânimo pelo fim de um sonho.
Para o representante comercial
Renato Queiroz Bispo, 39, paulistano do bairro de Itaquera (zona
leste), a aventura de tentar ganhar
a vida nos Estados Unidos não se
repetirá. "Não volto nunca mais
para lá."
Na tentativa de cruzar a fronteira pela cidade mexicana de Cananéia, o representante comercial
relatou ter presenciado estupros
praticados por "coiotes" (traficantes de imigrantes).
Ao chegar à cadeia de Tucson,
no Arizona, ele disse ter passado
três dias sem tomar banho. Reclamou também da alimentação e do
frio. Afirmou que perdeu US$
2.000 na empreitada, entre passagens e comida. No total, foram 25
dias preso.
O motorista e cozinheiro Antônio Carlos da Costa, 38, morador
de Belo Horizonte, foi recebido,
na volta dos EUA, pela mãe, pela
mulher e por seus dois filhos, de
seis e quatro anos.
Disse ter tentado sozinho a travessia para os Estados Unidos,
sem intermediários. Vendeu um
restaurante de sua propriedade
para juntar dinheiro. Foi detido
três dias após deixar o Brasil, em
dezembro. "O desemprego aqui
[no Brasil] é muito grande. Não
há outra saída."
Costa afirmou que pode tentar
entrar novamente nos EUA, da
próxima vez com a família. "O risco compensa. Vou descansar uns
dias, juntar dinheiro e tentar ir
embora de novo."
Dos 277 repatriados, 70% são de
Minas Gerais, informou o senador Hélio Costa (PMDB-MG). Os
outros 30% são de Mato Grosso
do Sul, Tocantins, São Paulo, Espírito Santo, Pernambuco, Pará,
Maranhão, Bahia, Mato Grosso,
Santa Catarina, Rondônia, Distrito Federal e Goiás.
Até o final da tarde de ontem, a
auxiliar de escritório Raquel Velasco, 24, ainda esperava, com o
filho de dois anos no colo, a liberação do marido, o instalador de
películas de carro Gilmar Lúcio da
Cruz, 27, de Resplendor (MG).
"No início, ele ficou revoltado
com a prisão, porque tentava só
trabalhar honestamente", disse.
A desempregada Neuza dos
Santos, 36, de Ribeirão das Neves
(região metropolitana de Belo
Horizonte), lamentava a dívida de
R$ 10 mil contraída pelo marido,
Sebastião Pontes Gomes, para
tentar ingressar nos EUA. "Vamos ver o que vai acontecer agora", afirmou. Gomes não havia sido liberado até o final da tarde.
Nenhum dos deportados contatados pela Agência Folha relatou
casos de agressões nas cadeias
norte-americanas. Grande parte
reclamou da alimentação -açucarada ou apimentada demais-
e disse ter tentado a aventura por
incentivo de parentes que já vivem naquele país.
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