São Paulo, quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

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PASQUALE CIPRO NETO

Quem procura (quase sempre) acha


Os dicionários só costumam registrar formas femininas cujo radical seja diferente do radical das masculinas

NA SEMANA PASSADA, trocamos duas palavras sobre o ato de consultar dicionários. O assunto rendeu muito! Os leitores gostaram e pediram mais orientações.
Um desses leitores escreveu o seguinte: "Valeria prosseguir com esse tema em outras edições, focalizando, inclusive, aspectos óbvios, como o fato de muitas vezes só constar a palavra na forma masculina".
Ao ler o que escreveu esse leitor, lembrei-me imediatamente da palavra "ubérrima", que, neste espaço, já empreguei diversas vezes. Vários leitores afirmaram que procuraram essa palavra num dicionário, mas não a encontraram. Nem poderiam.
Os dicionários só costumam registrar formas femininas "anormais".
O leitor já sabe o que eu quis dizer com formas "anormais", não? Qual é o feminino de "cavalheiro", "cavalo" ou "galo", por exemplo? Todos sabem que o de "galo" não é "gala", que o de "cavalo" não é "cavala" e que o de "cavalheiro" não é "cavalheira".
Nesses casos, é líquido e certo encontrar nos dicionários os femininos desses substantivos. Aliás, não preciso dizer quais são, preciso? Antes que me esqueça, o que chamei de femininos "anormais" aparecem nas gramáticas nas listas de "masculinos e femininos de radicais diferentes". Estão nessas listas "boi" e "vaca", "carneiro" e "ovelha", "pai" e "mãe", "frei" e "sóror/soror", "cão" e "cadela", "genro" e "nora" etc.
Moral da história: é pouco provável que um dicionário deixe de registrar algum dos femininos que acabei de citar, assim como é pouco provável que registre os femininos que tenham radical igual ao do masculino.
Quero voltar à mensagem do leitor para destacar a palavra "óbvios" ("...focalizando, inclusive, aspectos óbvios..."). Lembro que, em algumas aulas sobre prática de ensino, muitos professores diziam que não deveríamos ter vergonha de repetir, de tocar no óbvio etc. "O que parece óbvio para o professor pode não ser para o aluno", diziam. Confesso que no início da carreira eu tinha vergonha, sim, de repetir, de tocar no óbvio.
Confesso também que achava exageradas as observações daqueles meus Mestres. Com o tempo e a lida, logo vi que Eles tinham razão.
Voltando à questão do masculino/ feminino e à palavra "ubérrima", digo-lhe, caro leitor, que não tenha vergonha do óbvio. Não encontrou no dicionário o que procurava? Vá atrás. Se não encontrou "ubérrima" (e de fato não vai encontrar), isso deve ser sinal de que não se trata de um feminino "anormal", ou seja, é hora de procurar "ubérrimo", que aparece, sim, nos dicionários grandes. No "Aurélio", encontra-se simplesmente o seguinte: "Superl. abs. sint. de úbere2". Esse "2" indica que se trata da segunda acepção de "úbere".
Em sua primeira entrada, "úbere" aparece como substantivo, com o significado de "mama de vaca ou de outra fêmea de animal". Os precipitados podem achar que "ubérrima" seja uma supermama. Não é. Quando se lê a segunda acepção de "úbere", vê-se que essa palavra pode ser adjetivo, com o significado de "fértil", "farto". O "Houaiss" é mais "bonzinho" e diz que "ubérrimo" significa "extremamente úbere", "muito abundante/fértil".
Por motivos óbvios, os minidicionários nem sempre trazem o superlativo isoladamente. Trazem-no, às vezes, no corpo dos adjetivos.
Em "magro", por exemplo, pode-se encontrar a informação de que os superlativos são "macérrimo" (erudito) e "magríssimo". É isso.

inculta@uol.com.br


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