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SAÚDE
Médicos recomendam a cirurgia para prevenir doença que infecciona o órgão, como a que vitimou o vice-presidente
Vesícula é extraída mesmo sem sintoma
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ela é um órgão pouco lembrado, mas, quando se manifesta, é
logo eliminada. Trata-se da vesícula biliar, cuja principal função é
coletar e armazenar a bile, líquido
produzido pelo fígado que participa do processo digestivo.
A vesícula se torna um problema quando são formados cálculos (pedras de colesterol ou de
pigmentos biliares) no seu interior. Nessa condição, mesmo que
não haja sintomas, os médicos indicam a retirada do órgão.
Os cálculos podem bloquear o
canal de saída do órgão, impedindo o fluxo natural da bile. Retido,
esse líquido desencadeia uma infecção (colecistite aguda). Foi essa
doença que acometeu o vice-presidente José Alencar (PL), internado às pressas no hospital Sírio
Libanês, no último sábado, para a
retirada da vesícula.
Se não for tratada a tempo, a colecistite pode romper para dentro
do abdômen, provocando uma
peritonite aguda (infecção das
membranas que revestem as camadas abdominal e pélvica).
Para não correr o risco de ter o
problema agravado, os médicos
recomendam atenção aos sinais
que o órgão possa dar ao longo da
vida. Os mais comuns são alterações na digestão, que tende a se
tornar mais lenta, e dores agudas,
como cólica na parte superior de
abdômen.
Segundo o cirurgião gastroenterologista Raul Cutait, médico que
operou o vice-presidente, às vezes
os sintomas não são claros e podem ser confundidos com problemas de estômago ou de fígado.
Como os órgãos são vizinhos,
explica o médico, os sintomas podem se sobrepor. Por isso, na investigação, os médicos costumam
pedir, além da endoscopia (exame que faz uma inspeção visual
do aparelho digestivo), um ultra-som para avaliar a vesícula.
O caso da síndica Maria Lilia
Antunes de Almeida, 70, ilustra
bem essa confusão de diagnóstico. Ela diz ter sofrido durante dois
anos com os cálculos e ter realizado inutilmente duas endoscopias
e uma colonoscopia (exame endoscópico da superfície interna
do cólon). "Após tanta procura,
as pedras foram achadas pelo
meio mais fácil [um ultra-som]."
Ela diz que sofria dores abdominais horríveis, que pareciam irradiar-se também para a coluna
vertebral. "Era um horror. Não
me sentia confortável em nenhuma posição", conta. Na cirurgia,
foram retiradas três pedras. "Pareciam bolinhas de gude", brinca.
De acordo com Marcelo Ribeiro, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital São Luiz, muitas
pessoas descobrem os cálculos
"por acaso". "Geralmente vão fazer um ultra-som de um outro órgão e são surpreendidas pelo
achado das pedras", diz. Estudos
internacionais indicam que cerca
de 75% das pessoas com pedras
na vesícula não têm sintomas.
Na opinião de cirurgiões gastroenterologistas, o melhor tratamento para pedra na vesícula é a
retirada do órgão. Entre os clínicos, há controvérsias. "Nem todo
mundo encaminha para cirurgia
os casos assintomáticos. É preciso
avaliar cada caso", afirma o gastroenterologista Jaime Natan Eisig, do Hospital das Clínicas.
De acordo com Marcelo Ribeiro, há um consenso entre os cirurgiões de que é muito mais seguro
para o paciente retirar a vesícula
ainda que não haja sintomas dos
cálculos. "Como não podemos
prever quais casos vão permanecer assintomáticos e quais vão se
complicar, o melhor é a cirurgia."
Segundo o médico José Eduardo Monteiro da Cunha, chefe do
serviço das vias biliares do Hospital das Clínicas, 80% dos casos de
câncer de vesícula, altamente maligno, estão relacionados à presença de cálculos no órgão.
A doença também pode permanecer assintomática por muito
tempo. "Quando os sintomas
aparecem, geralmente o câncer já
está instalado e a possibilidade de
cura é mínima", afirma o médico.
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