São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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CRIME

Jovem de 17 anos ataca a facadas outra estudante em colégio da zona leste de SP; pivô do assassinato é um comerciante de 29 anos

Por ciúme, aluna mata na porta da escola

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Bem na frente de uma aglomeração de alunos (algo entre 50 e 80), que tentava entrar na Escola Estadual Said Murad, no Jardim Guarani, zona leste de São Paulo, o automóvel Fiat Tempra de cor vinho estacionou. A estudante P., 17, que estava na fila, esperando sua vez de mostrar a carteirinha da escola para entrar no estabelecimento, viu quando, de dentro do carro que conhecia tão bem, saltou sua colega Elen Ferreira, também de 17 anos. P. atravessou a rua, sacou a faca com que andava havia duas semanas e, enquanto a outra despedia-se do motorista, desfechou mais de dez golpes -pelas costas da garota. O ataque foi tão violento que a lâmina da faca quebrou.
Eram 19h20 de anteontem, hora exata em que a fila de alunos desfez-se, todos correndo para imobilizar a agressora e ajudar a vítima. "O tempo parou nessa hora. Eu segurava a P. e pedia a ela para se acalmar. Enquanto isso, outros ajudavam a Elen a entrar novamente no Tempra, para ir ao hospital", lembra uma colega.
"Então, o carro saiu e a P. me disse: "Pode me soltar agora, eu já estou calma". Eu a soltei e ela saiu, andando, sem que ninguém a segurasse. A gente estava congelada de terror." A lembrança é de uma jovem de 15 anos, colega de P. e de Elen. Levada ao hospital Tide Setúbal, logo depois Elen morreu.
"Foi ciúme", diziam os colegas aglomerados ontem de novo na porta da escola. "Foi ciúme doentio", diz a avó de Elen, Estelina Martins da Silva, 64. "Tudo indica que foi ciúme", diz o delegado Paulo Cesar Gasparoto, plantonista do 64º Distrito Policial.
O motorista do Tempra vinho, o comerciante A.P., o "Armando", 29, é o pivô do conflito entre as meninas, segundo a avó de Elen e a mãe de P.
A história que as duas mulheres contam é semelhante: "Armando" começou a namorar Elen há dois anos, quando ela tinha 15 anos. Na mesma época, começou a flertar com P., também de 15. Ele, então, tinha 27.
Durante um ano, as duas disputaram o amor de "Armando" até que ele optou por P., abandonando Elen. Mas o rapaz, segundo a avó de Elen, sempre procurava a menina e P. sabia disso.
Desesperada de ciúmes, segundo a própria P. contou ao delegado, há duas semanas ela avisou "Armando" que mataria Elen, caso visse os dois juntos. Foi quando comprou a faca, 15 cm de lâmina. Não seria a primeira vez que ameaçava Elen. Há dois anos, logo que o triângulo se formou, contam os amigos, P. já havia dado uma surra em Elen, como forma de dissuadi-la de continuar o romance com Armando.
"P. é linda", diz uma colega. "E tem estilo", diz outra. "É roqueira"; "Fora esse episódio sempre foi calma na escola", dizem os colegas sobre a menina loira, 1,65 metro, olhos verdes, magra.
No dia do crime, como sempre, P. estava de camiseta regata preta, calça jeans e tênis pretos. Depois do ataque, passou a noite vagando pelo bairro. De manhã, telefonou ao irmão e contou-lhe o que fizera. Os dois combinaram encontrar-se no estacionamento de um supermercado. Por volta das 13h30 de ontem, um carro de polícia avistou os dois. P. chorava desesperada, falando com o irmão. Pensando ser briga de casal, os PMs abordaram os dois e veio a confissão: "Eu matei a Elen."
Sobre Elen, os colegas dizem que também era "muito linda". A avó diz que a neta adorava comprar roupas. Vaidosa, seu passeio preferido era ir ao shopping Penha. "Ela queria ser médica."
Na escola, a diretora afirmou desconhecer a rivalidade das duas meninas. "Elas estão no [Escola] Said Murad há apenas um mês e meio. Vieram transferidas de outros colégios." Segundo a avó de Elen, nem P. nem a neta sabiam que iriam se encontrar na nova escola. A descoberta veio com o início do ano letivo. "Minha neta chegou em casa e disse para mim: "Você não imagina quem também chegou no Said", lembra.
"A gente sabia que a P. andava com a faca há duas semanas, mas não podia imaginar uma violência como a que aconteceu. Quando tudo acabou, eu estava com as minhas calças encharcadas de sangue, o rosto sujo de sangue e meu tênis fazia um plof-plof. Era sangue", conta uma colega.
"Armando" não quis dar entrevista à Folha. Segundo o delegado, ele será investigado por corrupção de menores. P. foi encaminhada à Febem na tarde de ontem e Elen será enterrada hoje às 9h.


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