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CRIME
Jovem de 17 anos ataca a facadas outra estudante em colégio da zona leste de SP; pivô do assassinato é um comerciante de 29 anos
Por ciúme, aluna mata na porta da escola
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Bem na frente de uma aglomeração de alunos (algo entre 50 e
80), que tentava entrar na Escola
Estadual Said Murad, no Jardim
Guarani, zona leste de São Paulo,
o automóvel Fiat Tempra de cor
vinho estacionou. A estudante P.,
17, que estava na fila, esperando
sua vez de mostrar a carteirinha
da escola para entrar no estabelecimento, viu quando, de dentro
do carro que conhecia tão bem,
saltou sua colega Elen Ferreira,
também de 17 anos. P. atravessou
a rua, sacou a faca com que andava havia duas semanas e, enquanto a outra despedia-se do motorista, desfechou mais de dez golpes -pelas costas da garota. O
ataque foi tão violento que a lâmina da faca quebrou.
Eram 19h20 de anteontem, hora
exata em que a fila de alunos desfez-se, todos correndo para imobilizar a agressora e ajudar a vítima. "O tempo parou nessa hora.
Eu segurava a P. e pedia a ela para
se acalmar. Enquanto isso, outros
ajudavam a Elen a entrar novamente no Tempra, para ir ao hospital", lembra uma colega.
"Então, o carro saiu e a P. me
disse: "Pode me soltar agora, eu já
estou calma". Eu a soltei e ela saiu,
andando, sem que ninguém a segurasse. A gente estava congelada
de terror." A lembrança é de uma
jovem de 15 anos, colega de P. e de
Elen. Levada ao hospital Tide Setúbal, logo depois Elen morreu.
"Foi ciúme", diziam os colegas
aglomerados ontem de novo na
porta da escola. "Foi ciúme doentio", diz a avó de Elen, Estelina
Martins da Silva, 64. "Tudo indica
que foi ciúme", diz o delegado
Paulo Cesar Gasparoto, plantonista do 64º Distrito Policial.
O motorista do Tempra vinho,
o comerciante A.P., o "Armando", 29, é o pivô do conflito entre
as meninas, segundo a avó de
Elen e a mãe de P.
A história que as duas mulheres
contam é semelhante: "Armando" começou a namorar Elen há
dois anos, quando ela tinha 15
anos. Na mesma época, começou
a flertar com P., também de 15.
Ele, então, tinha 27.
Durante um ano, as duas disputaram o amor de "Armando" até
que ele optou por P., abandonando Elen. Mas o rapaz, segundo a
avó de Elen, sempre procurava a
menina e P. sabia disso.
Desesperada de ciúmes, segundo a própria P. contou ao delegado, há duas semanas ela avisou
"Armando" que mataria Elen, caso visse os dois juntos. Foi quando comprou a faca, 15 cm de lâmina. Não seria a primeira vez que
ameaçava Elen. Há dois anos, logo que o triângulo se formou,
contam os amigos, P. já havia dado uma surra em Elen, como forma de dissuadi-la de continuar o
romance com Armando.
"P. é linda", diz uma colega. "E
tem estilo", diz outra. "É roqueira"; "Fora esse episódio sempre
foi calma na escola", dizem os colegas sobre a menina loira, 1,65
metro, olhos verdes, magra.
No dia do crime, como sempre,
P. estava de camiseta regata preta,
calça jeans e tênis pretos. Depois
do ataque, passou a noite vagando pelo bairro. De manhã, telefonou ao irmão e contou-lhe o que
fizera. Os dois combinaram encontrar-se no estacionamento de
um supermercado. Por volta das
13h30 de ontem, um carro de polícia avistou os dois. P. chorava desesperada, falando com o irmão.
Pensando ser briga de casal, os
PMs abordaram os dois e veio a
confissão: "Eu matei a Elen."
Sobre Elen, os colegas dizem
que também era "muito linda". A
avó diz que a neta adorava comprar roupas. Vaidosa, seu passeio
preferido era ir ao shopping Penha. "Ela queria ser médica."
Na escola, a diretora afirmou
desconhecer a rivalidade das duas
meninas. "Elas estão no [Escola]
Said Murad há apenas um mês e
meio. Vieram transferidas de outros colégios." Segundo a avó de
Elen, nem P. nem a neta sabiam
que iriam se encontrar na nova
escola. A descoberta veio com o
início do ano letivo. "Minha neta
chegou em casa e disse para mim:
"Você não imagina quem também
chegou no Said", lembra.
"A gente sabia que a P. andava
com a faca há duas semanas, mas
não podia imaginar uma violência como a que aconteceu. Quando tudo acabou, eu estava com as
minhas calças encharcadas de
sangue, o rosto sujo de sangue e
meu tênis fazia um plof-plof. Era
sangue", conta uma colega.
"Armando" não quis dar entrevista à Folha. Segundo o delegado, ele será investigado por corrupção de menores. P. foi encaminhada à Febem na tarde de ontem
e Elen será enterrada hoje às 9h.
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