São Paulo, quarta-feira, 29 de março de 2006

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VIOLÊNCIA

Ataque no Rio de Janeiro deixou mais cinco baleados; após crime, contratados comemoraram a obtenção da vaga

Rapaz é assassinado na fila por emprego

TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO

A disputa por um emprego em um supermercado do Rio acabou ontem em tragédia. Leandro Moreira, 21, foi assassinado com pelo menos sete tiros por três homens que passaram de carro em frente ao estabelecimento, onde cerca de 500 pessoas tentavam uma vaga. Cinco pessoas foram baleadas e pelo menos dez ficaram feridas.
Depois do pânico, parte dos desempregados celebrou ao saber que ganhara o emprego. Quando o segurança do mercado anunciou que poderiam voltar no dia seguinte com a identidade, cerca de 50 pessoas explodiram em comemoração: gritaram, se abraçaram e deram pulos para o ar.
Por volta das 10h, quando uma multidão esperava em frente ao depósito da rede, em Realengo (zona oeste), o motorista de um Siena parou em frente a Leandro e o chamou com um assovio. No carro, roubado horas antes, havia outros três homens armados.
Quando o rapaz olhou para ele, o motorista começou a atirar. Leandro tentou fugir, mas o motorista saiu do carro e continuou atirando, desta vez a esmo. O pânico tomou conta da multidão, que correu para todas as direções.
Os criminosos deixaram então o Siena e roubaram um Fusca e uma moto. Um suspeito de 19 anos, preso com mais 11 pessoas, disse, segundo a polícia, que Leandro integrava facção rival.
A vítima não tinha antecedentes criminais. Ele estava desde as 4h na fila por uma vaga de balconista de laticínio ou de quitanda, açougueiro, carregador ou repositor.
O supermercado costuma oferecer vagas às terças e às quintas. Ontem, a fila teve mais de 2.000 pessoas, dizem testemunhas. "Eu já vim umas cinco vezes. Foi horrível o que aconteceu, quando começou o tiroteio me joguei no chão, mas preciso de emprego", disse Josué Martins, 29, desempregado há quatro meses. Ele ralou o braço e rasgou a calça.
Josué foi um dos que comemoraram. "Estou feliz, mas não esquecerei a morte desse rapaz, que também precisava de emprego."
O crime teria sido cometido por traficantes da favela do Batam, da facção ADA (Amigo dos Amigos), rivais da facção da favela Vila Aliança, o TCP (Terceiro Comando Puro), onde vivia a vítima.
"Talvez ele seja ex-integrante do tráfico, mas fizeram essa barbaridade. Se ele estava na fila do emprego, não tem motivo. Foi covardia", disse o coronel Romão Vilaça. Para a polícia, os criminosos não planejaram o crime, estavam na iminência de assaltar -já haviam roubado um Gol e o Siena. Quando se preparavam para outro crime, passaram pelo mercado e reconheceram Leandro.


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