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Acordo coloca fim a impasse no maior banco de olhos do país
Normalização da captação de órgãos parada há 60 dias em Sorocaba, só deve ocorrer em maio; trabalhos serão supervisionados por profissionais de nível superior
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Chegou ao fim o impasse que
mantém paralisado há mais de
60 dias o maior banco de córneas do país, o de Sorocaba
(SP), em razão de uma disputa
sobre qual profissional -enfermeiro ou técnico- pode captar
córneas para transplante.
A normalização dos serviços
só deve ocorrer, porém, em
meados de maio, quando uma
nova legislação entra em vigor.
Segundo o banco, as atividades foram suspensas porque o
Coren (Conselho Regional de
Enfermagem) passou a exigir a
presença de enfermeiros ou
médicos em todo o processo de
captação de órgãos, proibindo a
atuação de profissionais de nível técnico treinado.
Responsável por 75% das
córneas transplantadas no Estado de São Paulo, o banco de
olhos de Sorocaba alegava não
poder contratar os profissionais de custo três vezes maior.
No acordo fechado pelo Ministério Público Estadual, que
envolveu a Secretaria Estadual
da Saúde e os conselhos regionais de medicina (Cremesp) e
de enfermagem, ficou acertado
que, se a captação for feita pelo
técnico de enfermagem, é preciso a supervisão do enfermeiro. Os auxiliares de enfermagem não poderão mais atuar.
Essa atividade também pode
ser feita por outro profissional
de nível superior (biólogos ou
biomédicos, por exemplo) ou
médio da área da saúde.
No caso dos técnicos, eles
sempre deverão estar sob supervisão dos profissionais de
nível superior -que, a partir de
agora, só poderão assumir o comando por até duas equipes.
Segundo a promotora Anna
Trotta, embora já fechado, o
acordo está sendo avaliado pelo
governo estadual e deve ser assinado no próximo dia 10. O
coordenador do banco de Sorocaba, Edil Vidal de Souza, diz
que a instituição contratou 30
profissionais de saúde de nível
superior em substituição ao
pessoal de enfermagem. A nova
equipe iniciou treinamento há
uma semana e deve estar pronta para trabalhar em maio.
Para Souza, as mudanças
previstas no acordo foram apenas para atender uma "exigência corporativa da enfermagem". "Não justifica esse tempo
todo de prejuízo às pessoas que
estão à espera de uma córnea."
Segundo ele, há hoje 2.535
pessoas na fila em SP, o que representa um aumento de 81%
só no período de paralisação.
Já o coordenador de fiscalização do Coren, Cláudio Alves
Porto, nega o corporativismo e
diz que as mudanças trarão
mais segurança e transparência
à captação de córneas. "Eles
disseram que não poderiam
contratar enfermeiros porque
iria aumentar os custos. Agora,
contratam profissionais de nível superior com custo igual."
Na nova legislação estadual,
foram criadas regras que não
constam na resolução nacional
que regulamenta o sistema de
transplantes. A lei nacional
tem, por exemplo, regras para
situações em que as córneas
não podem ser transplantados
(HIV, hepatite, câncer entre
outras), mas não prevê essas
mesmas situações no processo
de captação dos órgãos.
"As córneas estavam sendo
retiradas mesmo nas hipóteses
que ela não serviria para transplantes. A RDC (resolução nacional) previa a utilização para
ensino e pesquisa", afirma a
promotora Trotta.
Segundo ela, ficou estabelecido que a captação para fins
científicos deve ser previamente autorizada pela Central de
Transplantes, que, por sua vez,
exigirá um projeto de pesquisa
aprovado pela comissão de ética da instituição, onde acontecerá a pesquisa com as córneas.
Também, nessa hipótese, a
família do doador deverá ser
devidamente esclarecida da finalidade específica da doação.
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