São Paulo, domingo, 29 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grávida desiste de aborto após 28 comprimidos

DA REPORTAGEM LOCAL

Agosto de 2004. Após uma festa, Júlia (nome fictício), 23, de Curitiba (PR), transa, sem nenhuma proteção, com um publicitário que embarcaria na manhã seguinte para Londres. Preocupada com a possibilidade de gravidez, ela toma a pílula do dia seguinte.
Quinze dias depois, com a ausência de menstruação, faz um teste e se descobre grávida. Desempregada e já com um filho de quatro anos, Júlia decide abortar. O pai da criança, já em Londres, envia dinheiro para que ela compre Cytotec e deixa claro que não assumiria a gravidez.
Ela vai até uma farmácia em Tijucos (SC), adquire quatro comprimidos a R$ 150 e os introduz na vagina. Após alguns dias, repete o teste, que confirma a continuidade da gravidez.
Júlia pede dinheiro emprestado, vai até a mesma farmácia e compra mais quatro comprimidos. Nada ocorre novamente. Com a ajuda do tio, que lhe empresta R$ 2.000, ela vai até uma clínica em Curitiba para fazer o aborto.
Mas, ao chegar ao local e ser avaliada pelo médico, descobre que, devido a sua idade gestacional (quase três meses), a interrupção da gravidez custaria R$ 3.800.
Como não dispunha da quantia, decide passar em um camelô, no centro da capital paranaense, e compra dez comprimidos de Cytotec, a R$ 500. "O camelô disse que era do Paraguai", conta. Sem qualquer orientação médica, decide ingerir cinco cápsulas e introduzir outras cinco na vagina. Novamente, nenhum efeito.
Desesperada, volta ao camelô e compra mais dez comprimidos. E nada. Decide, então, voltar para a casa dos pais, em uma pequena cidade próxima a Florianópolis. "Comecei a freqüentar um centro espírita e me arrependi das tentativas de aborto. Descobri que, para ter resistido a tudo aquilo, era um ser muito especial."
O bebê nasceu no Dia das Mães, de parto normal, sem nenhuma seqüela. "Acho que os comprimidos eram de farinha. Perdi muito dinheiro, ainda estou devendo ao meu tio, mas graças a Deus que não deu certo", diz a mãe, que agora se diz mais "ajuizada".
"Antes só queria saber de festa. Meu filho me deu rumo. Assim que ele crescer um pouco, voltarei a trabalhar e a estudar", diz Júlia.
O pai do bebê, desde que soube que Júlia teria o filho, desapareceu. Ela enviou vários e-mails, inclusive uma foto da sua barriga, mas o moço não se comoveu.(CC)

Texto Anterior: A vítima: "Quase tive que tirar o útero", diz estudante
Próximo Texto: São Paulo submersa: Urbanização sem controle sufocou o Tietê
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.