São Paulo, terça-feira, 29 de maio de 2007

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Controladores têm culpa em colisão aérea, conclui relator da CPI

Em depoimento, sargentos afirmaram que controle aéreo tem falhas e induz ao erro

LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após um depoimento sumário no qual controladores envolvidos no acidente com o vôo 1907 negaram ter cometido algum erro, o relator da CPI do Apagão Aéreo no Senado, Demóstenes Torres (DEM-GO), concluiu que eles têm culpa pela colisão entre o jato Legacy da ExcelAire e o Boeing da Gol, que deixou 154 mortos em 29 de setembro de 2006.
O senador afirmou que o sargento Jomarcelo dos Santos, 27, cometeu a "falha decisiva" e "mais grave" por não orientar os pilotos do Legacy a mudar de altitude, mas disse não acreditar que houve dolo (intenção), conforme denúncia feita pelo Ministério Público à Justiça na sexta-feira.
Este foi o primeiro depoimento público de três dos quatro controladores do Cindacta-1 (Brasília) acusados pelo acidente. Além de Santos, a CPI ouviu os sargentos Lucivando de Alencar, 28, e Leandro Barros, 27, denunciados por crime culposo (sem intenção). Os três afirmaram que o sistema de controle aéreo tem falhas, induz ao erro e não é confiável.
Para Demóstenes, as falhas do sistema existem e serão investigadas. "Neste caso, embora o sistema seja falho, a causa foi o fator humano. Eu não tenho dúvida de que a falha mais grave foi do Jomarcelo."

"Não admito"
Com respostas curtas, Santos disse que acreditou que o Legacy voava no nível de 36 mil pés, quando na realidade estava em 37 mil pés (em rota de colisão com o Boeing da Gol). "A informação que eu tinha a partir de Brasília é que ele já estaria no 360. Eu não tinha por que pedir para descer", afirmou. "Eu tenho que confiar na informação que eu tenho. Não tinha por que questionar."
A explicação não convenceu o relator porque o piloto informou que o jato estava a 37 mil pés minutos antes de cruzar por Brasília. Além disso, como o transponder (aparelho anticolisão e que permite comunicação precisa com radares em terra) só ficou inoperante sete minutos depois de o jato passar por Brasília, por esse período era possível verificar a altitude.
Questionado se admitia falhas, Santos respondeu: "Não admito". Afastado da função desde o acidente, ele hoje trabalha na sala de planos de vôo.

Aviso
Outra falha sobre a qual os controladores foram interrogados foi a falta de aviso -obrigatório, pelo manual do setor- para o centro de Manaus de que o Legacy seguia sem transponder e com comunicação falha.
Diante da pergunta, Alencar afirmou quer assumiu o posto na troca de turno e foi informado de que o Legacy estava no nível 360 por Santos. "Em cima da informação de altitude correta, não teria por que fazer um procedimento de emergência ou outra atitude especial. A informação que eu tinha era 360 para o Legacy e 370 para o Gol."
Alencar admitiu ter percebido a falha no transponder, mas não conseguiu contato por rádio com o Legacy. Não se preocupou porque o jato ia entrar numa área sem radar, portanto valeria a informação de altitude previamente confirmada.
Leandro Barros, que "passou" à central em Manaus, com informação errada de altitude, o jato, quase não falou.


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