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C. perde virgindade,
engravida e pega Aids
da Reportagem Local
Há pouco mais de três anos, a
comerciária C.N., 26, recebeu
duas notícias que mudaram a sua
vida. Primeiro, a boa: estava grávida. Depois, a má: estava com Aids,
contraída do primeiro e único namorado que teve.
Foi num baile em Santo André,
na Grande São Paulo, que C. o conheceu, apresentado por uma
amiga em comum. Dançaram músicas românticas, coladinhos, durante toda a noite. Começaram a
sair frequentemente a partir do dia
seguinte ao baile onde também tinha acontecido o primeiro beijo.
Mais de 20 dias depois, em um
motel, eles tiveram a primeira relação -C. já se sentia esquisita
por ser a única, entre todas as amigas, a continuar virgem aos 22
anos. "Eu tinha tanto medo de
engravidar que não queria", conta
C. "E olha só o que aconteceu".
C. e o namorado nunca usaram
preservativos. Ela acredita que ele
não sabia que estava com a doença. "Acho que ele não iria fazer
uma coisa dessas. Depois é que me
disseram que ele era promíscuo."
Um ano depois de começar o namoro, o rapaz ficou muito doente.
Na vizinhança, todo mundo comentava que ele tinha Aids. C. decidiu fazer o exame. Foi com a mãe
até o Emílio Ribas, hospital especializado em doenças infecto-contagiosas na capital paulista, fez o
teste e recebeu o resultado positivo como uma sentença de morte.
"No começo eu chorava muito, achava que ia morrer. Depois,
decidi enfrentar a doença", diz. A
filha nasceu e, embora quisesse
muito, C. não amamentou a criança. "É engraçado, com a Aids o
ato de amor é não amamentar."
Sem manter contato com o vírus
por meio do leite, o bebê "negativou" o HIV e hoje é uma criança
saudável de dois anos de idade. C.
vem se tratando com o coquetel de
medicamentos e também não havia desenvolvido sintomas até um
mês atrás, quando pegou a primeira infecção oportunista, um
princípio de meningite.
Na terça-feira, 25, ela obteve alta
no Emílio Ribas após 21 dias internada. Caixa de um supermercado,
ela possui um plano de saúde, mas
a Aids não é coberta pelo convênio. Todo o tratamento, inclusive
os remédios, é mantido pelo SUS.
Bonita, sem sinais visíveis da
doença, C., que nunca mais se
apaixonou por ninguém, disse se
sentir feliz. "Acho que tenho
muita vida pela frente." Com exceção da família, ninguém sabe que
está infectada. No trabalho, a ausência foi justificada como uma licença médica por meningite.
Do namorado, que lhe transmitiu a doença e a abandonou quando soube que estava grávida, C. diz
não sentir raiva. Ele continua vivo,
mas não tem contato com a criança, mantida pela mãe com os R$
300 que recebe de salário e com a
ajuda da família dela.
C. diz que já não tem a mesma
vontade de se divertir de antes,
embora não pense na doença obsessivamente e sinta que, aos poucos, sua vida está voltando à normalidade do período pré-HIV.
"Hoje, eu tenho medo, porque
os homens não querem usar camisinha e eu não vou fazer ninguém
infeliz. Mas ainda quero encontrar
uma pessoa que goste de mim,
quero me casar."
(CM)
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