São Paulo, quinta-feira, 29 de junho de 2006

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Médicos defendem fim do álcool líquido

Categoria diz que proibição da venda do produto, em 2002, mas liberada por liminar, diminuiu número de queimaduras

Dados mostram que, por ano, 150 mil pessoas, a maioria crianças, são vítimas de acidentes provocados pela versão líquida


Ricardo Nogueira/Folha Imagem
Bianca Lopes, 4, que teve queimaduras graves nas pernas quando brincava com álcool líquido


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Médicos e entidades lançaram uma campanha pedindo que a Justiça volte a proibir no país a venda do álcool líquido. A proibição ocorreu em 2002, mas uma liminar do Tribunal Regional Federal de Brasília, favorável à indústria de álcool, conseguiu reverter a decisão seis meses depois.
Neste mês, sete órgãos médicos e ONGs lançaram um manifesto pedindo que a Justiça julgue o recurso ingressado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ainda em 2002, pedindo a volta do veto.
A principal alegação é que a retirada do produto do mercado reduziu o número de queimaduras. Dados da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ) mostram que, por ano, cerca de 150 mil pessoas são vítimas de queimaduras provocadas por álcool líquido acima de 46º INPM (Instituto Nacional de Pesos e Medidas) -sendo um terço crianças.
Segundo a SBQ, a maior parte dos acidentes ocorre em churrascos. Brincadeiras de crianças são outra causa.

Estudo
O cirurgião Edmar Maciel Lima Júnior, presidente da SBQ, diz que um estudo feito pela sociedade em 56 hospitais que tratam queimaduras concluiu que, no semestre em que a venda de álcool líquido ficou proibida no país, o número de queimaduras caiu de 25% a 75%.
"Não temos dúvidas de que a proibição da venda tem grande impacto na redução dos acidentes. O brasileiro tem uma cultura errônea sobre o uso do álcool. Utiliza para limpar a casa, acender churrasqueira. Mas, no final, o que ele causa mesmo são queimaduras", diz.
O tratamento de uma pessoa queimada dura em torno de três meses e custa cerca de R$ 1.500 por dia, segundo o SUS (Sistema Único de Saúde). Pelo menos 3% das vítimas morrem.
O médico David Souza Gomez, chefe do serviço de queimados do Hospital das Clínicas, diz que as queimaduras por álcool são profundas, em geral de segundo e terceiro graus, e demandam vários enxertos de pele de outras partes do corpo. No HC, representam 40% dos 120 atendimentos mensais.
O álcool líquido acima de 46º INPM faz o fogo se espalhar mais rápido, causando queimaduras mais graves, o que não ocorre com o álcool em gel.
A proibição do produto acima de 46º INPM ocorreu em fevereiro de 2002 após resolução da Anvisa. Em agosto, a Abraspea (Associação Brasileira dos Produtores e Envasadores de Álcool) obteve a liminar.


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