São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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RONILDA MARIA LIMA NOBLAT (1940-2008)

Advogada que barrou a pena de morte

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Se Theodomiro dos Santos ficou famoso por ser o primeiro brasileiro condenado à morte na era republicana, a advogada Ronilda Noblat virou ícone por tê-lo defendido -e assim salvado sua vida.
"Os olhos diziam tudo", diz o estagiário admirador. "Faziam gente tremer na base." Quando entrava no tribunal de saia longa, echarpe colorida e "cheia de jóias", o cheiro do perfume Amarige de Givenchy tomava conta da sala, a prenunciar o embate. "Entrava numa audiência como numa frente de batalha."
Também podia. Nas rodas de conversa sempre surgia a história do pai, delegado que andara no encalço dos cangaceiros de Lampião no sertão, dizia, até dar cabo dos crimes. A filha seguia de longe a morar em toda Bahia, desde a Paripiranga onde nasceu até a Salvador onde vivia.
"Das irmãs era a que não saía de casa, para estudar direito", diz a filha. Formada em 1965, começou defendendo ex-colegas acusados pelo novo regime. Mulher rígida, que "para enfrentar a ditadura, criou uma armadura". Aceitou o caso de Theodomiro, comunista acusado de assassinato a criar um partido proibido e condenado à morte pelo tribunal militar. Foi com Ronilda que teve a pena reduzida a "só 16 anos, seis meses e 25 dias".
Viúva, tinha três filhos, seis netos e, no currículo, 500 casos defendidos e a Comissão de Anistia. Morreu no último domingo, de insuficiência respiratória, aos 67. Mas só após dizer que "não admitia" que deixassem seu escritório fechar.

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