São Paulo, domingo, 29 de junho de 2008

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Restrição pode incentivar uso do carro

Demanda reprimida de viagens de automóvel deve ocupar o espaço deixado pelos caminhões, diz ex-chefe do Denatran

Crescimento da frota também contribuirá para piorar trânsito; professor da USP, porém, avalia que, sem caminhões, haverá melhora

DA REPORTAGEM LOCAL

A fluidez do trânsito deve ter alguma melhoria, mas não se anime tanto se você anda de carro em São Paulo: parte dos benefícios da retirada de caminhões das ruas no período diurno será anulada por uma demanda reprimida de viagens; e outra parte pode se esgotar no decorrer do tempo pelo próprio crescimento da frota, com mil veículos novos a cada dia.
"Não tenha dúvidas de que vai estimular mais viagens de automóvel. É um saco sem fundo fazer algo para melhorar a fluidez do transporte individual. Daqui a quatro anos estará pior do que hoje", diz Ailton Brasiliense, presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos) e ex-chefe do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
A avaliação de que existe uma demanda reprimida de viagens de automóvel que vai ocupar parte do espaço retirado dos caminhões já foi reconhecida pela própria administração Kassab.
E a explicação é simples: muita gente deixa de sair de casa em certos horários por conta dos engarrafamentos; quando há qualquer tipo de melhoria, algumas já mudam de idéia.
Brasiliense ressalva não ter acesso aos estudos da CET sobre os impactos da medida, mas diz discordar do conceito adotado pela prefeitura. "As prioridades estão invertidas. O transporte de cargas, entre as prioridades, deve estar na frente do transporte individual", afirma.
O especialista Jaime Waisman, professor da USP, vê na restrição aos caminhões um exemplo de que é possível adotar medidas favoráveis ao trânsito mesmo com poucos recursos financeiros. Para ele, algumas vias com grande tráfego de caminhões podem ter uma melhoria imediata da fluidez até superior à média de 14% a 17% calculada pela prefeitura.
O setor de transporte de carga, porém, avalia que boa parte da melhoria do trânsito a partir de amanhã será por conta do início das férias escolares -e teme que isso seja utilizado pela gestão Kassab para alardear os benefícios da restrição.
"Vai dar uma falsa impressão", afirma Manoel de Souza Lima Jr., vice-presidente do Setcesp (sindicato que representa as transportadoras).
(ALENCAR IZIDORO e RICARDO SANGIOVANNI)

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