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"Universidade federal não olha o mercado"
Para professor, instituições públicas precisam se concentrar em cursos estratégicos
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
O professor e economista
Jorge Madeira Nogueira, da
Universidade de Brasília,
afirma que o Ministério da
Educação é capaz de impedir
o temido "apagão" de mão
de obra qualificada no Brasil.
O MEC, diz, precisa fechar
os cursos baratos das universidades federais e transferi-los para as faculdades privadas. As federais ficariam só
com os cursos que formam
profissionais estratégicos para o crescimento do país.
FOLHA - Existe, de fato, o risco
de a economia travar por falta
de profissional qualificado?
Jorge M. Nogueira - Formamos muitos advogados e administradores, mas um país
não se faz só com advogados
e administradores. Muitas
empresas já não conseguem
encontrar engenheiros dentro da qualificação necessária. A nossa graduação está
formando pouco e mal.
Mas o governo tem multiplicado as vagas nas federais...
Lamento essa estratégia. O
Brasil não tem dinheiro para
manter 70 universidades federais. Está diluindo recursos. Com pouco dinheiro, as
federais passam fome e fazem pesquisinha. Entre numa federal de Mato Grosso e
você vai chorar. E é justamente lá a fronteira agrícola.
Por outro lado, as federais
sempre têm um curso de contabilidade. Não adianta fazer
universidade pública com
cursos baratos. Quero ver
abrir engenharia nuclear ou
mecatrônica. O governo deve
escolher dez universidades e
investir pesado, para que se
tornem fontes de recursos
humanos top de linha.
E os cursos baratos?
As faculdades privadas
podem cuidar deles. Os alunos que não puderem pagar
terão bolsas de estudos. Não
podemos querer que a universidade pública se encarregue de tudo. O Brasil não está
tendo a coragem de fazer a
divisão entre público e privado no ensino superior. Antes,
dava-se um diploma ao jovem e pronto. Ele conseguia
emprego. Hoje há o mercado.
A empresa quer o jovem com
uma qualificação bem específica. Se não tiver, ele não
serve para o mercado.
Não é perigoso deixar as universidades federais formando só para o mercado?
Não é pecado. É claro que
as federais não devem formar
só o que o mercado quer, mas
também não devem formar
só o que o mercado não quer.
A esquerda tem um ranço de
que é preciso formar universitários com uma visão humanística, mas assim deixa-se o mercado a ver navios.
Não me venham com o papo
de que 70 federais de péssima qualidade geram pensamento. O governo pode deixar um grupo menor [de universidades] com qualidade
fazendo esses novos pensamentos. Quando se quer todas as universidades fazendo
tudo, elas ficam medíocres.
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