São Paulo, segunda-feira, 29 de julho de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Deputados querem explicação do governo

DA REPORTAGEM LOCAL

A Comissão de Direitos Humanos da Assembléia de São Paulo irá cobrar explicações do secretário da Segurança Pública sobre as operações do Gradi/PM e a atual política de inteligência do Estado.
Hoje, o presidente da comissão, deputado Renato Simões (PT), deve fazer o convite oficial para marcar a data do encontro, que deve acontecer em agosto, após o fim do recesso parlamentar.
""O Gradi virou um aparelho ilegal, contrário à sua finalidade original [investigar crimes de intolerância" e contrário à lei", afirmou.
Para o deputado, a principal falha do Gradi está em sua criação: por não ser uma delegacia, não pode abrir inquéritos em suas investigações. É no acompanhamento desse procedimento de apuração que agem os mecanismos de controle legais, como o exercido pelos promotores.
Ontem, por meio de sua assessoria, o secretário Saulo de Castro Abreu Filho não quis confirmar se aceitará o convite. A comissão pode convocá-lo oficialmente, caso ele se recuse a comparecer.
Para deputados federais e estaduais e representantes de entidades de direitos humanos ouvidos pela Folha, o recrutamento de presos condenados pela PM representa um retrocesso na política de segurança pública.
Nas comparações com períodos anteriores, foram citados os desmandos na época da ditadura militar, as atividades do esquadrão da morte -policiais que assassinavam supostos criminosos na década de 70- e a colaboração de criminosos no combate a gângsteres norte-americanos, na década de 30.
"É o esquadrão da morte institucionalizado", disse o deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Para o deputado, a ação policial clandestina da polícia contra organizações criminosas abre um precedente perigoso. "O próximo alvo desses ações podem ser as atividades políticas, como acontecia na época da ditadura."
O coordenador estadual do Movimento Nacional dos Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, afirma que o descontrole das ações policiais pode resultar na formação de um possível grupo de extermínio. "A informação é estarrecedora. O Estado não pode agir criminalmente para combater o crime", disse.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, Orlando Fantazini, comparou a infiltração de presos pela PM à parceria entre criminosos e a polícia na caça aos gângsteres norte-americanos. "O caso sinaliza o total desespero do governo do Estado. O governo não pode brincar de polícia."
O deputado federal Marcos Rolim (PT-RS), outro membro da comissão, defendeu ontem uma investigação pelo Congresso. ""O que nos garante que essa estrutura não está sendo usada por organizações criminosas?"
Parlamentares acreditam que seria mais eficaz a abertura de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar o serviço de inteligência do que esperar uma apuração da polícia. Porém, reconhecem que é praticamente impossível o processo em um ano de eleições.


Texto Anterior: Secretaria diz que Judiciário fiscaliza ações
Próximo Texto: Sequestros: Ex-militares encabeçam a lista dos sequestradores mais procurados de SP
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.