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Empresária que matou ladrão encomenda missa
Vítima diz que não atropelou assaltante de propósito
MARIANA CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS
Traumatizada com a tentativa de assalto que resultou na
morte do assaltante e na amputação da perna da companheira
dele, a empresária Chrislaine
Guedes Mesquita, 26, mandou
rezar uma missa em intenção
da alma do ladrão.
Ela diz que fecha os olhos e
revê a cena: em uma motocicleta, os dois assaltantes tentaram
levar sua mochila de dentro do
carro. Na confusão, o Fox preto
que Mesquita dirigia prensou a
moto contra um poste, causando a morte de Luiz Correa dos
Santos Filho, 25.
A companheira do assaltante
precisou passar por cirurgia para amputar parte da perna esquerda. Presa em flagrante, a
jovem de 22 anos está internada na Santa Casa de Santos, sob
escolta policial.
Mesquita foi autuada sob
acusação de homicídio culposo
e lesão corporal culposa. O acidente aconteceu na última segunda-feira, por volta das
10h30, no bairro da Pompéia,
em Santos.
Ontem, ela recebeu a reportagem no escritório do advogado criminalista Marcelo Cruz,
contratado para cuidar do caso.
"Ando com a mochila presa
no braço. Eu senti ela puxar. A
mochila prendeu na minha
mão porque eu estava segurando o volante. Ela falou: "Dá porque ele vai te matar, ele está armado". E eu soltei", contou
Mesquita.
Resgate
A empresária disse que não
se lembra do momento do acidente. Não sabe dizer se acelerou o automóvel ou se a moto
bateu em algum carro parado
antes de ser prensada contra
o poste.
Ao sair do veículo, machucada, ela não percebeu que os dois
ocupantes da moto estavam
prensados no poste. "Quando
eu vi, a primeira coisa que eu fiz
fui gritar pedindo o resgate."
A empresária afirmou que
não havia nada de valor na mochila, apenas pedaços de tecido,
moldes e alguns documentos.
Ela tem uma pequena confecção em São Vicente e uma loja
de roupas de praia e ginástica
em Santos.
Por conta do calor, os vidros
dianteiros do carro estavam
abaixados.
Calmantes
Desde o dia do acidente,
Mesquita está dormindo com a
ajuda de calmantes.
Ela marcou consulta com um
psicólogo e está indo ao médico
para cuidar dos ferimentos decorrentes da colisão. O cinto de
segurança queimou a pele do
tórax, e o impacto da batida
provocou hematomas nas pernas e no quadril.
Sem tirar os óculos escuros,
Mesquita disse que tem orado
mais nos últimos dias. Católica,
mandou rezar uma missa em
intenção ao assaltante morto.
Leitora de livros espíritas,
a empresária prefere não
acompanhar a celebração para
não atrapalhar as orações pela
alma dele.
Além do trauma causado pelo acidente, ela perdeu o carro,
que não tinha seguro. "Tudo
[me preocupa]", disse ela. "O
que vem para cima de mim, que
eu posso pagar por alguma coisa que não foi premeditada.
Acho injusto responder por um
crime que não cometi. Não foi
proposital."
Para o advogado, há chances
de Mesquita, mãe de uma menina de 11 anos, não responder
pelos crimes.
"Quem responde pelo resultado é o agente que deu causa à
ação. No caso, seriam os dois
[assaltantes]", afirmou Cruz à
Folha. "Vamos impetrar um
habeas corpus no Tribunal de
Justiça para trancar o inquérito
policial com relação a ela como
autora."
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