São Paulo, sexta-feira, 29 de julho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

BARBARA GANCIA

A nova Wallis Simpson


Já espalharam que ela era agente russa; agora só falta dizer que a camareira do caso DSK é da CIA

ATÉ POUCO tempo atrás, tudo que havia de bombástico acontecia nos EUA. Lembra disso? O massacre de Columbine, os assassinatos de Kennedy, Martin Luther King e John Lennon, o "helter skelter" promovido por Charles Manson, até o suicídio coletivo daquele grupo de "trekkies" da Califórnia que queria se antecipar ao fim do mundo e resolveu vestir tênis e abrigo Reebok e depois tomar veneno de rato com Ki-Suco -o leitor está lembrado dessa turminha de Smurfs?
Agora, o inacreditável vem de outro lugar e ninguém mais se lembra de apontar a CIA ou os terroristas como os suspeitos de sempre.
Nos anos 70 ou 80, se surgisse a notícia de que um Timothy McVeigh norueguês surpreendeu a inteira força policial de seu país (ao que parece, composta por 12 homens em férias) e matou 76 pessoas de uma só tacada, imediatamente se difundiria pela Europa um sentimento de desconfiança em relação a Arafat, Gaddafi ou Carlos, o Chacal.
Da mesma forma, não seria possível haver um escândalo da monta daquele ocorrido com o conglomerado NewsCorp, pertencente ao Cidadão Kane australiano, Rupert Murdoch, sem que alguém suspeitasse ter havido ali um dedo da CIA.
A gente sabe que Murdoch é um homem de negócios desprovido de sentimentalismos, que não perde tempo com coisas banais como idealismo e ideologias, o negócio dele é ganhar grana sem olhar cor, credo, gênero ou nacionalidade. Tanto é que ajudou a eleger Tony Blair de um lado do Atlântico e se colocou contra Obama no outro. E ainda quer cobrar do cidadão comum que ele ajude a bancar a imprensa livre (no que tem toda razão) se ele deseja continuar a ter um poderoso mecanismo de fiscalização de políticos à disposição.
Parece um contrassenso isso, dado o escândalo que ele próprio produziu. Quando olhamos para as principais democracias, onde estão encaminhadas e como são conduzidas, com os grandes conglomerados dominando a cena e as mesmas pessoas por trás de tudo dando as cartas, é o caso de se perguntar se não seria melhor pegar um barco a remo em direção à Coreia de Kim Jong-il para ir lá viver uma aposentadoria descomplicada.
Mas eu divago. Ainda que exemplos abundem e nos façam recomendar alguma sorte de exílio napoleônico, não há como negar o senso de justiça divina finalmente sendo posta em prática quando lemos manchetes como: "Obama admite risco de calote" ou "Finanças públicas dos EUA em trajetória insustentável". Ué? Não éramos nós os caloteiros e eles os paladinos da liberdade?
O último voo do ônibus espacial Atlantis e o corte de verbas na Nasa, que agora passa toda a sua atividade para a iniciativa privada e -quem diria?- aos russos, parece ser o emblema do fim de uma era.
O que sobra para os gringos, eu me pergunto, senão inventar uma bela guerra para botar a engrenagem para voltar a funcionar?
A quantas anda o poderio bélico da China? Pois é, perto do zero. Assim que se retirarem do Afeganistão e do Iraque, quem apostaria um picolé de limão como os norte-americanos serão capazes de criar uma encrenca daquele lado do mundo?
Já disseram que ela trabalha para Putin. Agora só falta o pessoal espalhar que a camareira do Sofitel no caso Dominique Strauss-Kahn é agente dupla da CIA e fazia uma horinha extra no "News of the World". E que segue ordens diretamente de Hu Jintao.

barbara@uol.com.br

@barbaragancia



Texto Anterior: Até eu fiquei com medo, diz analista "preso" em trem
Próximo Texto: Atmosfera
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.