São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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CRIMES NO PARQUE
Investigadores acreditam que mata pode estar escondendo corpos de outras vítimas; acusado está foragido
Polícia acha mais 2 corpos de mulheres

MARCELO GODOY
da Reportagem Local

Mais dois corpos de mulheres foram encontrados ontem no parque do Estado. Quase esqueletos, os policiais acreditam que eles sejam de vítimas do maníaco sexual que agia no parque (zona sudeste de São Paulo), uma área de mata atlântica com 550 hectares ou 5,5 milhões de m2.
Com eles, o número de mulheres assassinadas pelo maníaco sobe para oito -o corpo da primeira vítima foi achado em janeiro de 98. Novas buscas serão feitas na mata, pois os investigadores do caso não descartam a possibilidade de outros corpos serem encontrados.
"Eu não duvido de mais nada", disse o delegado Sérgio Alves, 35, da equipe C-Sul do DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa). A varredura de ontem era a quinta que seria feita no parque nos últimos 20 dias pelo COE (Comando de Operações Especiais) da PM e pelo DHPP.
Às 9h, 20 policiais entraram na mata por uma trilha que começa no km 16 da rodovia dos Imigrantes e termina na rua Alfenas, perto da casa na qual o motoboy Francisco de Assis Pereira, 30, morou por dois anos. Acusado dos crimes, Pereira está foragido.
A trilha foi revelada por duas das seis mulheres que, violentadas, sobreviveram e reconheceram o motoboy. Na reconstituição do caminho, os policiais passaram por onde o primeiro corpo foi achado.
Pouco tempo depois, o grupo chegou onde, em maio passado, foi encontrado o segundo corpo. Ali ainda havia cabelos da vítima, e os peritos acharam uma corrente com um coração, talvez bijuteria.
Eram 12h15 quando o primeiro corpo foi encontrado mata adentro, 60 metros adiante. Alguns minutos depois, a segunda vítima apareceu. Cerca de 20 metros de mata os separavam.
Ambos, quase esqueletos, estavam de bruços, com as cabeças enfiadas no solo arenoso e úmido. Assim como as outras seis mortas, não havia documentos por perto que identificassem as vítimas. As duas tinham cabelos longos.
De acordo com a perita Jane Pacheco Belucci, do DHPP, a primeira estava morta havia, pelo menos, 40 dias. O corpo nu não tinha obturações nos dentes, mas dois pré-molares faltavam na arcada dentária inferior da mulher.
Parte da pele da mão da vítima foi retirada e será reidratada a fim de que sejam obtidas impressões digitais. "Esse terreno conservou o corpo", disse a perita.
A outra vítima estava vestida só com uma camiseta preta, um boné e com um coturno número 35. Sua morte teria ocorrido há dois meses. Ela tinha três brincos de argola em uma orelha e dois na outra.
Nas mãos, havia um anel e no pulso, um relógio Spaltec. Seus dentes tinham obturações. Não foi possível determinar a idade de nenhuma das duas mulheres.
"O local e a forma como os corpos foram deixados são marcas do maníaco", disse o delegado Alves. Na varredura, os policiais também acharam quatro shorts, uma saia, sutiãs e calcinhas.
"Havia ainda restos de roupas queimadas", disse a perita. Segundo a polícia, uma distância de 200 metros em linha reta separa as vítimas de onde Pereira morou.
Para o delegado Alves, um dos novos corpos pode ser o de Isadora Fraenkel, 19. O motoboy apresentava Isadora, uma estudante residente no Itaim Bibi (zona sudoeste), como sua namorada.
Sumida desde fevereiro de 98, a polícia achou cheques dela depositados na conta bancária do acusado após ela ter desaparecido.



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