São Paulo, quarta, 29 de julho de 1998

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OPINIÃO
O MS e Porto Primavera

FRANCISCO A.G. DE BARROS
Concebida em 1973, a hidrelétrica de Porto Primavera fazia parte do pacote de obras faraônicas do governo e só foi parcialmente deixada de lado pela euforia da inauguração de Itaipu. Planejada em 1980 para custar US$ 1,4 bilhão, a usina custará agora, na inauguração, quase US$ 10 bilhões.
Enquanto essa odisséia se desenvolvia no Estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul a ignorava solenemente. Por força de lei, em 1987, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente/MS recebeu o diagnóstico dos impactos ambientais. A partir daí, começou a se inteirar da briga econômica e política desproporcional dos Estados.
Não podemos deixar de louvar o heroísmo e a garra de todos os técnicos que estiveram acompanhando esse processo até o fim. Se Mato Grosso do Sul perdeu, não foram eles os culpados. Houve grande falta de visão dos nossos políticos.
Cada governo eleito designava um representante para acompanhar o processo; quando mudava o governante, mudava também o interlocutor. Tivemos de retomar várias vezes o diálogo com cada novo governo sul-matogrossense e com a Cesp, que também constantemente mudava de diretor.
Por aí se vê a pequenez com que o problema foi encarado. O Estado só teve como recompensa mais importante algumas toneladas de barro para os oleiros da região, apetrechos de pesca e repovoamento de casas para os habitantes das áreas a ser inundadas, além de algumas obras de infra-estrutura.
Ganhamos mais um grande desastre ecológico da história do Brasil: a transformação do rio Paraná numa grande lagoa. Porto Primavera irá alagar três quartos dos municípios atingidos (só um quarto deles está em São Paulo). Mato Grosso do Sul perde uma área quase do tamanho de Brasília.
Em março de 1993, foi acertado que Mato Grosso do Sul receberia pelas perdas US$ 112 milhões. Até hoje, só recebeu US$ 267 mil, fora o prejuízo ambiental. Com o não-cumprimento dos acordos, o fechamento das comportas foi suspenso por ordem judicial.
Se os ambientalistas perderam a batalha, a sociedade perdeu muito mais. Geográfica, federativa e politicamente, somos donos da metade do rio Paraná. Onde estão nossa força política e nosso irrestrito apoio ao governo federal? Por causa de poucos metros de território paraguaio, o país vizinho detém 50% das ações de Itaipu.
Já que não conseguimos nem ter duas turbinas gerando energia, só nos resta correr atrás da privatização da Cesp. Cabe-nos, como alternativa, comprar ações da nova empresa ou fazer alguma associação. Só assim o Estado poderá ser auto-suficiente em matéria de energia elétrica para os seus projetos de desenvolvimento futuro.


Francisco Anselmo Gomes de Barros, 59, é presidente da Fundação para Conservação da Natureza de Mato Grosso do Sul



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