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OPINIÃO
O MS e Porto Primavera
FRANCISCO A.G. DE BARROS
Concebida em 1973, a hidrelétrica de Porto Primavera fazia parte
do pacote de obras faraônicas do
governo e só foi parcialmente deixada de lado pela euforia da inauguração de Itaipu. Planejada em
1980 para custar US$ 1,4 bilhão, a
usina custará agora, na inauguração, quase US$ 10 bilhões.
Enquanto essa odisséia se desenvolvia no Estado de São Paulo,
Mato Grosso do Sul a ignorava solenemente. Por força de lei, em
1987, a Secretaria Estadual do
Meio Ambiente/MS recebeu o
diagnóstico dos impactos ambientais. A partir daí, começou a se inteirar da briga econômica e política desproporcional dos Estados.
Não podemos deixar de louvar o
heroísmo e a garra de todos os técnicos que estiveram acompanhando esse processo até o fim. Se Mato
Grosso do Sul perdeu, não foram
eles os culpados. Houve grande
falta de visão dos nossos políticos.
Cada governo eleito designava
um representante para acompanhar o processo; quando mudava
o governante, mudava também o
interlocutor. Tivemos de retomar
várias vezes o diálogo com cada
novo governo sul-matogrossense
e com a Cesp, que também constantemente mudava de diretor.
Por aí se vê a pequenez com que
o problema foi encarado. O Estado
só teve como recompensa mais
importante algumas toneladas de
barro para os oleiros da região,
apetrechos de pesca e repovoamento de casas para os habitantes
das áreas a ser inundadas, além de
algumas obras de infra-estrutura.
Ganhamos mais um grande desastre ecológico da história do
Brasil: a transformação do rio Paraná numa grande lagoa. Porto
Primavera irá alagar três quartos
dos municípios atingidos (só um
quarto deles está em São Paulo).
Mato Grosso do Sul perde uma
área quase do tamanho de Brasília.
Em março de 1993, foi acertado
que Mato Grosso do Sul receberia
pelas perdas US$ 112 milhões. Até
hoje, só recebeu US$ 267 mil, fora
o prejuízo ambiental. Com o
não-cumprimento dos acordos, o
fechamento das comportas foi
suspenso por ordem judicial.
Se os ambientalistas perderam a
batalha, a sociedade perdeu muito
mais. Geográfica, federativa e politicamente, somos donos da metade do rio Paraná. Onde estão
nossa força política e nosso irrestrito apoio ao governo federal? Por
causa de poucos metros de território paraguaio, o país vizinho detém 50% das ações de Itaipu.
Já que não conseguimos nem ter
duas turbinas gerando energia, só
nos resta correr atrás da privatização da Cesp. Cabe-nos, como alternativa, comprar ações da nova
empresa ou fazer alguma associação. Só assim o Estado poderá ser
auto-suficiente em matéria de
energia elétrica para os seus projetos de desenvolvimento futuro.
Francisco Anselmo Gomes de Barros, 59, é
presidente da Fundação para Conservação da
Natureza de Mato Grosso do Sul
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