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LEI POLÊMICA
Médicos e "curiosas" cobram por operações clandestinas que colocam em risco a vida das mulheres
Aborto em SP custa de R$ 150 a R$ 2.000
MALU GASPAR
da Reportagem Local
Fazer um aborto clandestino em
São Paulo pode custar de R$ 150 a
R$ 2.000, segundo levantamento
feito pela Folha em locais que fazem aborto e com mulheres que
abortaram recentemente.
As formas de interromper a gravidez vão desde a ingestão de chás
ou comprimidos abortivos -de
venda proibida sem receita médica- até cirurgias em clínicas bem
equipadas. Há ainda casos das
chamadas "curiosas", que introduzem objetos no útero para provocar uma hemorragia nas gestantes (veja quadro ao lado).
Em todos os casos, os métodos
escolhidos dependem da condição
financeira de quem aborta. Os de
maior risco para a saúde da mulher são mais baratos.
Segundo o ginecologista Jorge
Andalaft Neto, do programa de
aborto legal do Hospital do Jabaquara, a sequela mais perigosa de
um aborto é a infecção uterina.
"Em casos extremos, a infecção se
espalha e pode até matar", diz.
A maioria dos abortos feitos em
clínicas clandestinas sem condições acaba nos hospitais públicos.
Acaba sendo necessária a cirurgia
de curetagem em hospitais para
completar o aborto e conter uma
infecção no útero.
Dados do Ministério da Saúde
mostram que, em 96, foram realizadas 246 mil curetagens pós-aborto em hospitais do SUS (Sistema Único de Saúde). Dessas,
51,6% em mulheres com até 24
anos.
Esse número nem de longe representa o total de abortos realizados no Brasil -eles não incluem
mulheres que mesmo com complicações não procuram o hospital, que vão a hospitais particulares ou que não sofrem complicações.
Uma organização americana, o
Instituto Allan Gutchmacher, estimou em 1,4 milhão os abortos realizados no Brasil. Não há estimativas oficiais.
Nas clínicas, os preços podem
variar de R$ 500 a R$ 2.000, de
acordo com as condições de higiene, equipamentos e renda das pacientes.
O preço médio do aborto nas clínicas visitadas pela Folha é R$
1.000. Os médicos fazem a consulta, que custa de R$ 30 a R$ 100, e,
depois de conversar com a paciente -nem sempre é pedido exame
de gravidez-, marcam dia e combinam preço. O pagamento é sempre em dinheiro e à vista.
"Esses fatos mostram que a ilegalidade do aborto só aumenta a
mortalidade materna, principalmente em mulheres pobres. Isso é
que é um desrespeito ao direito de
saúde da mulher", afirma Marlene
Libardoni, do Centro Feminista de
Estudos e Assessoria.
Para o ginecologista Thomaz
Gollop, o aborto deve ser considerado um problema de saúde pública. "É preciso olhar para a questão
como um problema real e encontrar soluções para ele. Para mim,
essas soluções não passam pela
punição", diz.
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