São Paulo, domingo, 29 de agosto de 2004

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Mulheres são as maiores vítimas das quedas

DA REPORTAGEM LOCAL

Regiane Brigido Godoy, 25, bióloga; Valdezina Miranda Pedreira, 54, aposentada; Vanessa D'Angelo de Souza, 29, gerente de marketing; Yara Marques Simões, 21, estudante, Maria Eduarda Silveira, 35, advogada. Em comum, uma coisa: seqüelas de acidentes nos passeios de São Paulo.
E o fato de serem todas do sexo feminino não é mera coincidência. Uma das constatações da pesquisa "Impactos Sociais e Econômicos dos Acidentes de Trânsito nas Aglomerações Urbanas", do Ipea, foi que o único tipo de ocorrência em que as mulheres superam os homens como vítimas são as quedas em calçadas, diz a médica fisiatra Júlia Maria D'Andrea Greve, que participou do estudo.
O problema é o salto? As mulheres são mais distraídas? "Entre as possíveis explicações para esse dado prevalecem duas. As mulheres andam mais pela cidade, para levar e buscar os filhos na escola, fazer compras, resolver problemas de casa -isso porque ainda não estão tão inseridas no mercado de trabalho como os homens. Por outro lado, entre os idosos, os que mais caem, as mulheres são mais numerosas", afirma Greve. "Mas é claro que o fato de as mulheres usarem sapatos menos seguros facilita acidentes", diz.

Salto e bengala
"Agora só uso salto se for de bengala. O negócio é andar de tênis e olhando para o chão", diz Regiane Godoy. Em 2002, um ano depois de ter operado o joelho por causa de um deslocamento na rótula, ela saía do metrô na estação Sumaré (zona oeste de SP), com pressa para chegar ao estágio, e caiu em um buraco da calçada. Bem em cima do joelho operado.
"Tive de colocar gesso da virilha até a canela porque ele havia deslocado de novo. O médico disse que eu teria de voltar a ser operada", conta. Só depois de uma semana de imobilização, 30 sessões de fisioterapia e muita hidroginástica, a cirurgia foi descartada.
"Minha vontade era pegar a Marta [Suplicy, prefeita de São Paulo] e fazer ela percorrer toda a [calçada da avenida] Paulista num salto agulha para ver se ela não ia cair", diz Vanessa de Souza.
Ela também ficou com o pé engessado por um mês por causa de um desnível no passeio ao lado da estação Trianon-Masp de metrô.
"O salto ficou preso, e o pé entortou. Minhas colegas no escritório vivem perdendo o salto por causa dos buracos nas pedras da calçada", relata. "Além do gasto para reformar o sapato, tem o "mico" de cair na rua e passar o resto do dia mancando", completa Maria Eduarda Silveira, que também trabalha na Paulista.
Outra vítima das calçadas, Yara Simões ainda ostenta o "troféu" da torção que sofreu há uma semana, quando descia do ônibus para pegar o metrô na região do Anhangabaú, no centro de São Paulo: uma tala para imobilizar o tornozelo. Faltava um pedaço do piso recém-reformado do local e foi justamente ali que a estudante pisou. "Doeu muito na hora. Agora estou à base de antiinflamatórios e compressas geladas."
Um pouco longe do centro, no Belém (zona leste), Valdezina Pedreira tropeçou duas vezes no mesmo bloco de concreto que um dia sustentou uma lixeira. O obstáculo fica no ponto de ônibus do lado de fora da estação de metrô.
"Pensei em reclamar, meu filho e minha sobrinha chegaram a mandar e-mails para a subprefeitura, mas não houve resposta. Os fiscais e motoristas que ficam no ponto dizem que, por dia, duas ou três pessoas caem como eu."
Vítimas de acidentes por causa das más condições das calçadas podem entrar na Justiça contra a prefeitura, mas não é um processo fácil, diz Eduardo José Daros, presidente da Abraspe. É preciso, por exemplo, ter testemunhas do ocorrido e comprovação do dano causado pela queda. (MV)


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