São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2005

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ILHA DE LAZER

Pesquisa indica que parque também atrai usuários de bicicleta de lugares distantes; 12% são de outras cidades

Ciclista pedala 2h para curtir Ibirapuera

Rogério Cassimiro/Folha Imagem
Ciclista passa ao lado de pedestre no parque Ibirapuera, que recebe usuários de outros municípios


ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Morador de Itapecerica da Serra, a 33 km do centro de São Paulo, Fabiano Alves Martins, 24, saía de casa com sua bicicleta ao menos duas vezes por mês para se divertir no parque Ibirapuera.
Havia quem já achasse uma aventura. Hoje, virou rotina. Desde junho, ele presta serviços no local, alugando e consertando esse tipo de veículo. O que era uma curtição virou obrigação, e ele vai e volta diariamente de bicicleta. "Ainda aproveito pra pedalar mais na hora do almoço", afirma.
Em seu trabalho no parque, Martins descobriu que não é um caso raro. Ele encontra ciclistas do bairro e de regiões até mais distantes, que também pedalam duas horas para ir ao Ibirapuera.
"Não tem muita opção lá na minha área", explicava anteontem Emerson Pereira dos Santos, 17, entregador de água que saiu de casa de bicicleta, às 8h20, no Jardim Jacira, quase na divisa de São Paulo com a mesma Itapecerica, para chegar ao parque às 10h40.
O fenômeno do Ibirapuera como espaço de lazer para ciclistas de longe foi identificado por uma pesquisa que traçou um perfil dos usuários de bicicleta do local.
Situado em um bairro nobre da capital paulista, foi natural verificar que a escolaridade e a renda dos ciclistas do parque, na média, é elevada -70% têm segundo grau completo ou ensino superior. Também não era digna de espanto a constatação de que 62% são moradores da zona sul -a mesma área do Ibirapuera.
Surpresa para os pesquisadores foi descobrir que 12% dos ciclistas do parque vivem em outros municípios -sem contar aqueles das extremidades da capital paulista. A proporção supera a dos que vivem nas zonas leste, norte e oeste, com 10%, 9% e 8%, servidas por parques como do Carmo, Horto Florestal e Villa-Lobos.
"Eles vêm da região metropolitana, normalmente em grupos", diz Antonio Miranda, autor da pesquisa, patrocinada pela Caloi e com a participação da Secretaria do Verde e do Meio Ambiente.
O levantamento inédito, feito em 2004, não permite apontar quantos vão de casa ao Ibirapuera pedalando pelas vias paulistanas. Mas a quantidade não tende a ser desprezível, já que 75% de todos os usuários de bicicleta chegam ao parque dessa forma -e não com ela dentro de automóveis.
A pesquisa projeta, a partir de contagens em três dias, que a quantidade mensal de ciclistas no Ibirapuera passa de 93 mil.
Anteontem, às 13h, a Folha localizou três grupos de ciclistas que saíram pedalando de áreas periféricas e distantes para se divertir no parque. Desconhecidos entre si, eles faziam manobras na marquise do Ibirapuera.
Emerson Pereira dos Santos, por exemplo, que viajou duas horas e vinte minutos, estava com três amigos do Valo Velho, na zona sul, Valdir Silveira, 18, Diego Lopes, 16, e Jonas Tarso, 18.
Em outro grupo, quatro ciclistas tinham saído de Parelheiros, extremidade na zona sul a mais de 30 km. Pedalaram duas horas para chegar. Um deles, Diego Almeida Oliveira, 19, ainda usava uma bicicleta diferente, com pedais na frente e guidom mais baixo, obrigando-o a ficar deitado. "Aqui é um lugar mais seguro. Em Parelheiros só tem rua pra pedalar. Já fui até atropelado", dizia Oliveira, que trabalha em uma lanchonete.
O terceiro grupo, de oito ciclistas, entre 15 e 19 anos, havia saído de bicicleta do Capão Redondo. Eles pedalaram uma hora e 15 minutos. Ficariam lá a tarde inteira.
"É legal porque tem essa pista, dá pra manobrar", dizia Leonel Medeiros, 17. O almoço de todos estava na mala: pão e bolacha. "Aqui é tudo caro. A gente traz dinheiro pro refrigerante", afirmava Leo Jeferson, 15.

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