Estampa da escola para 2010 exibe desenho com índia sobre a catedral da cidade

Pároco da igreja vê "falta de respeito com um templo sagrado'; cinquentenário da capital é o enredo da escola de Nilópolis para o Carnaval

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um banner da escola de samba Beija-Flor tem causado indignação em Brasília, cidade que completa 50 anos em 2010 e é tema do próximo enredo da atual vice-campeão do Carnaval do Rio de Janeiro.
Quem comanda o protesto é o padre Marcony Ferreira, 45. Ele é pároco da catedral de Brasília, um dos principais símbolos da capital federal, e não gostou nada de ver uma índia nua aparentemente deitada em cima da igreja no banner que apresenta o enredo de 2010 da escola de Nilópolis.
O mesmo desenho virou estampa da camisa oficial do enredo de 2010, vendida na loja da Beija-Flor por R$ 35. O banner está em destaque na página da entidade na internet.
"Fiquei indignado. É questão de [falta de] pudor. É uma falta de respeito com um templo sagrado. Uma afronta ao símbolo religioso", disse o pároco da catedral e vigário-geral da Arquidiocese de Brasília.
Ele afirma que foi alertado por fiéis sobre o novo banner e que, imediatamente, acionou o governo do Distrito Federal.
"Ainda não fomos avisados oficialmente, mas, quando isso acontecer, vamos modificar o desenho imediatamente", disse o diretor-geral de Carnaval da Beija-Flor, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla.

Patrocínio oficial
Na semana passada, o governo do DF assinou com a escola um contrato de patrocínio de R$ 3 milhões. Na ocasião, já alertou os sambistas sobre a polêmica.
"Espero que isso seja retirado o quanto antes. Recorrer à Justiça pode ser um caminho", afirma o pároco, sobre o possível uso dessa imagem no desfile do ano que vem na Marquês de Sapucaí, quando a escola homenageará o cinquentenário de Brasília.
"Nada contra os indígenas nem contra o uso da catedral na avenida. A questão é como esse pôster foi montado", afirma.
Procurada pela reportagem, a superintendência do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do Distrito Federal disse não ver problemas no banner.

Outras polêmicas
Embates entre a Igreja Católica e as escolas de samba têm sido comuns. A Beija-Flor, por exemplo, esteve à frente de outros dois episódios.
Em 1989, a escola levou ao Sambódromo um Cristo mendigo, idealizado pelo carnavalesco Joãosinho Trinta. O carro alegórico acabou cruzando a avenida coberto por uma lona preta por conta de uma liminar da Justiça. Em 2004, a Beija-Flor ensaiou colocar um Cristo armado no desfile, mas recuou diante da pressão de religiosos.


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