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Aluno troca de escola no meio do ano para não repetir
Estudantes optam por colégio mais "fraco" para tentar melhorar suas notas; educadores criticam essa prática
"Fica a ideia de que
sempre há um jeitinho",
reclama pesquisadora;
mãe afirma ser seu
papel ajudar o filho
RICARDO WESTIN
DE SÃO PAULO
As férias de julho nem haviam acabado, e os gêmeos
paulistanos Guilherme e Pedro Napolitano tinham certeza de que seriam reprovados.
As notas no 2º ano do ensino
médio estavam baixíssimas.
Apavorados, tomaram medida drástica: no meio do
ano, trocaram de colégio. Isso ocorreu dois anos atrás
-Guilherme saiu em agosto,
e Pedro, em setembro.
"Fomos para uma escola
fácil", diz Pedro, 19, recém-admitido na faculdade. "Se
não tivéssemos feito aquilo,
até hoje estaríamos no colégio", acrescenta Guilherme,
hoje também universitário.
Cada escola se defronta
com ao menos uma transferência assim todo ano -pouco antes ou pouco depois das
férias de julho. A "forte" perde aluno. A "fraca" recebe.
Ao optar por essa tática, a
família pensa no prejuízo financeiro e/ou no trauma da
repetência para o filho.
Especialistas, entretanto,
criticam. E dizem que o erro
maior não é do aluno, mas
dos pais e da escola.
"É o pior exemplo que podemos dar a nossos filhos",
diz Valéria Rohrich, professora de educação da Universidade Federal do Paraná.
Os pais, segundo ela, acabam ensinando aos filhos
que não precisam enfrentar
problemas. "Fica a ideia de
que sempre há um jeitinho."
Os pais, continua Rohrich,
precisariam ser participativos: discutir com o colégio as
dificuldades do filho e cobrar
reforço e atenção individual.
A escola, por sua vez, erra
por não lidar com as diferenças. "A escola se baseia num
modelo ideal de aluno. Quem
não se encaixa é considerado
pouco inteligente, problemático, e se vê obrigado a sair",
diz Lúcia Pulino, professora
de psicologia escolar da Universidade de Brasília.
PAPEL DE MÃE
A administradora Marisa
(nome fictício), 62, diz que foi
a própria escola, em São Paulo, que sugeriu que seu filho
de 16 anos buscasse outra
instituição. Foi o que fez.
"Que mãe quer ver seu filho reprovado? É meu papel
ajudá-lo a achar o caminho."
O colégio Dumont Villares,
na zona sul de São Paulo, diz
que, quando um aluno vai
muito mal, aproxima-se da
família. "Temos de ver se o
problema está dentro ou fora
da escola", diz o orientador
Marco Antônio de Matos.
Se está dentro, oferece aulas de reforço desde o início
do ano. Se está fora, pode indicar um psicoterapeuta.
No Batista Brasileiro (zona
oeste), os docentes são orientados a considerar a velocidade de aprendizagem de cada aluno. "O professor não
pode trabalhar com uma turma olhando só os melhores.
Tem de incluir, não excluir",
diz a diretora Maria Martinez.
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