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CASO ABRAVANEL
Relatório da balística sobre crime em flat descobriu munição incompatível com armamento apreendido
Laudo aponta arma "estranha" em tiroteio
ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma outra arma, diferente das
que a polícia apreendeu no flat
L'Etoile, em Barueri (Grande SP),
pode ter sido usada no local onde
dois investigadores morreram
tentando prender o sequestrador
Fernando Dutra Pinto, 22.
A dúvida parte do laudo que o
Instituto de Criminalística enviou
à polícia: 2 dos 23 projéteis analisados se mostraram incompatíveis com as sete armas recolhidas
no dia -três revólveres calibre
38, duas pistolas 380 e duas 45.
Até agora, a polícia conseguiu
dizer que dos 13 tiros que mataram os policiais, cinco saíram da
pistola 380 apresentada como
sendo de Dutra Pinto. Não se sabe
qual arma fez os outros disparos.
Na semana passada, laudo do IC
sobre amostras de sangue apontou a presença de uma quinta pessoa no 10º andar do flat, fora os
policiais Paulo Tamotsu Tamaki e
Marcos Amorim Bezerra -mortos-, o agente Reginaldo Nardis,
ferido, e o sequestrador.
Oficialmente, a polícia não dá
informações sobre as investigações, por determinação da Secretaria da Segurança Pública, enquanto o inquérito não acabar.
A defesa de Dutra Pinto, que sequestrou a filha e o próprio Silvio
Santos, prepara-se para utilizar
esses detalhes para dizer que ele
não matou os policiais. ""Isso reforça a tese de que havia uma outra arma, fora o fato de que existia
outra pessoa lá no flat", disse a advogada Simone Badan Caparroz.
Indícios
O laudo diz que cada projétil da
arma desconhecida pesa 10,4 g
-detalhe que pode ajudar a identificar o tipo da arma utilizada.
Um cartucho intacto é dividido
em duas partes: o estojo e o projétil -a ponta de chumbo que atinge o alvo. Foi esse segundo compartimento que o IC estudou.
Três peritos, a pedido da Folha,
analisaram essas especificações e
disseram o mesmo. ""Se for projétil de pistola, provavelmente saiu
de uma pistola ponto 40. Se for de
revólver, sugere um 357", disse
ontem Domingos Tocchetto, 58,
autor do livro ""Balística Forense:
Aspectos Técnicos e Jurídicos".
Um projétil dessas armas, citadas por ele, pesa 11,7 g. Como foi
deflagrado, pode ter perdido massa e, por isso, pesaria 10,4 g.
A dúvida se o disparo saiu de
pistola ou revólver não é esclarecida pelo IC. O projétil sofreu deformação. ""Não se pode chegar a
algum resultado conclusivo", diz.
A polícia tem pistolas ponto 40,
de uso das Forças Armadas. O revólver pode ser usado por civis.
No flat, após o tiroteio, a polícia
apreendeu dois cartuchos íntegros de munição 357 -do tipo de
arma sugerida pelos peritos.
Após um mês da morte dos policiais, ainda não se sabe o que
aconteceu no flat. Dutra Pinto
ainda nem foi indiciado no caso.
Na próxima quarta-feira, ele será ouvido pela Justiça, na capital.
Relatório da Corregedoria da
Polícia Civil, enviado ao Conselho
da Polícia Civil, levantou suspeitas sobre a ação policial no flat.
O documento diz que ""do bolso
dos policiais mortos, bem como
no quarto onde foi encontrado o
sobrevivente, fora vista grande
quantia em dinheiro". Eles tinham apreendido R$ 464 mil dos
R$ 500 mil do resgate pago.
O agente policial Nardis negou
ontem à Folha que houvesse dinheiro com ele e com os outros
policiais e a presença de uma
quinta pessoa no flat.
Em seu depoimento à polícia,
Nardis afirmou ter visto uma terceira arma com Dutra Pinto, uma
pistola, quando a equipe tentou
prendê-lo no 10º andar.
Essa arma nunca apareceu, assim como uma pistola 380 de um
dos policiais assassinado.
Carta
A Secretaria Estadual de Segurança Pública divulgou ontem a
carta enviada por Dutra Pinto à
família de Patrícia Abravanel. Na
carta, assinada por "Missionários
da Paz" e que chama Silvio de
"patrão", o grupo pede U$ 2 milhões de resgate. Segundo a secretaria, Silvio Santos teria pago R$
500 mil aos sequestradores.
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