São Paulo, domingo, 29 de setembro de 2002

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VIDA DE CACHORRO

Donos contam que exercícios tranquilizam cães; quem não tem tempo pode optar por um "personal dog"

Animal "problema" é aluno preferencial

DA REPORTAGEM LOCAL

As escolas de agility funcionam como uma espécie de academia nas quais os cães entram em forma e os donos, correm pouco entre um pulo e outro do animal.
De perfis variados, os proprietários têm pelo menos duas características comuns - a maioria é sedentária e, geralmente, tem histórias como a do boxer Mike Tyson Jr. para explicar porque decidiu matricular o seu cão.
"Ele era agitado demais", conta a dona-de-casa Cecília Monteiro de Carvalho, 58, sobre o labrador Keeper, 2. "Mas chegou um momento que não dava. Certo dia, ele mastigou e arrancou os dois frisos laterais do Palio da minha filha. Foi a gota d'água", diz.
Cecília bem que desejou se desfazer de Keeper, mas decidiu inscrevê-lo na Academia Brasileira de Formação em Agility (Abrafa), no Tatuapé (zona leste). "Em quatro meses, ele virou outro cão."
O mesmo ocorreu com outra aluna da academia, a rottweiler Frida, 3, propriedade da criadora da raça Bruna Honesco Dourado, 26. "Eu a peguei de volta com quatro meses, e ela estava uma fera. Soube que apanhava muito, e essa era a razão. O cão morde por medo. Não adianta ter um animal desses e deixá-lo abandonado no fundo do quintal", diz Bruna, sob os olhares tranquilos da cadela.
A proprietária da Abrafa, a "educadora canina" Betina Correia, 37, é uma das primeiras profissionais a treinar agility no país e exige seriedade no hobby. "Explico logo que aqui não é só para gastar a energia do cão ou para fazer xixi e cocô. O trabalho de adestramento é sério e necessário para os animais, que cada vez mais vivem em apartamentos", considera.

Campeonato mundial
Inventado na Inglaterra em 1978, o agility chegou ao país há cinco anos. Na primeira e única competição oficial, realizada em 1998, havia cerca de 20 cães. Hoje, há uma prova por semana, com aproximadamente cem animais inscritos em cada uma.
Segundo o veterinário Dan Wroblewski, 41, coordenador do esporte na Confederação Brasileira de Cinofilia, há cerca de mil cães entre os que participam ou participaram de provas da prática, 70% deles em São Paulo.
Na região metropolitana, surgiram 16 escolas oficiais em três anos. "Além dessas, há as pistas não-oficiais", afirma Dan.
O veterinário viaja na próxima semana para a Alemanha, com nove cães e seis donos que formam a equipe brasileira de agility, para participar do campeonato mundial. Em São Paulo, donos e animais já se preparam para o próximo torneio, a ser disputado ano que vem na França.
É o caso do estudante Felipe Stocco Minet, 15, e a border collie Fanny, 2. "É muito legal competir", diz Felipe, que, ao contrário da saltitante cadela, não pratica exercícios físicos. "Jogo futebol de vez em quando."

"Personal dog"
Além dos donos sedentários, há aqueles que nem sequer têm tempo de levar o animal para treinar. Para esses, surgiram os "personal dog", versão moderna do adestrador. A diferença é que este último era do tempo em que os cachorros com o privilégio de serem treinados eram somente os cães de guarda, como o pastor alemão.
"Agora, as pessoas querem cães educados e tranquilos", afirma Helio de Lima, 41, outro que viajará para a Alemanha. Proprietário do Canil K9, Lima está trocando a criação de pastores alemães por border collies e pastores de shetland -os melhores no agility.
Segundo ele, esse esporte estimula a socialização do animal, além de exercitá-lo. Enquanto isso, o dono alivia o estresse praticando o controle do cachorro.
"Sabe aquela história do cidadão que resolveu fazer academia junto com o amigo? Então, geralmente acaba assim: um deles desiste e desestimula o outro. O cão é aquele camarada que nunca vai desistir de sair com você", afirma o personal dog Paulo Roberto Tobias Pires, 37, que adestra cães na praça Charles Muller (centro).


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