São Paulo, quarta-feira, 29 de setembro de 2004

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FORA DA LEI

Mulher diz que vítimas participavam de festa; tráfico determinou fechamento do comércio próximo ao morro

"Foi covardia o que fizeram com o meu filho"

DA SUCURSAL DO RIO

A pensionista Elivânia Maria Machado, 37 -mãe de Charles Machado Silva, um dos dois jovens mortos anteontem no morro da Providência- disse que policiais esfaquearam seu filho no ombro e na barriga.
"Eu vi o osso dele para fora. Furaram a sua barriga", afirmou ela, durante o enterro, na manhã de ontem, no cemitério do Caju (zona portuária do Rio).
De acordo com Elivânia Machado, seu filho e o colega Luciano Custódio Sales estavam na rua participando de uma festa em homenagem a são Cosme e são Damião quando ouviram os tiros e decidiram correr para não serem atingidos.
"Foi uma covardia o que fizeram com meu filho. Eu quero justiça", declarou ela, que tem mais cinco filhos.
A mãe de Charles disse que o filho era um menino carinhoso, cursava a 7ª série da Escola Municipal Darcy Vargas (bairro da Saúde, zona portuária) e não tinha envolvimento com o tráfico de drogas.
Moradores do morro da Providência que acompanharam o sepultamento acusaram Charles de ligações com o tráfico.
Nenhum parente de Luciano Custódio, o outro morto anteontem, quis conversar com os jornalistas. Vizinhos disseram que ele ganhava a vida fazendo pequenos biscates.
A polícia nega que haja ferimentos a faca nos corpos dos dois rapazes mortos.

Tensão
Os enterros foram realizados em clima de tensão. Familiares dos dois rapazes ameaçaram as equipes de reportagem. Uma repórter do jornal "O Globo" teve o bloco arrancado e rasgado por um familiar de uma das vítimas. Ela ainda levou um empurrão de uma mulher.
Cerca de 200 pessoas acompanharam os dois sepultamentos no cemitério do Caju. A maioria dos visitantes chegou ao local em ônibus da empresa São Silvestre, cuja sede fica próxima ao morro da Providência.

Comércio fechado
Lojas de pelo menos cinco ruas que ficam nas imediações da estação ferroviária da Central do Brasil (avenida Presidente Vargas, na região central do Rio) voltaram a ficar fechadas durante todo o dia por ordem de traficantes do morro da Providência.
Alguns dos estabelecimentos que não abriram as portas ficam em frente à sede da 1ª e da 4ª delegacias de polícia.
O camelódromo, que fica atrás da estação ferroviária, também não funcionou, apesar de vários carros da PM (Polícia Militar) circularem pelo local.


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