São Paulo, sexta-feira, 29 de setembro de 2006

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BARBARA GANCIA

Bush também é "aloprado"


Nós temos "aloprados" que fabricam dossiês e Bush persegue adversários usando a mídia e Hollywood


CHEGO SEMPRE atrasada a tudo que é novidade. Fui a última repórter da Folha a fazer a transição da máquina de escrever para o computador, nunca me apresso em assistir aos filmes que concorrem ao Oscar e não saberia dizer o nome de um DJ famoso nem mesmo sob a mira de uma escopeta. Como tenho sempre de correr atrás do prejuízo, resolvi tirar o último domingo para conhecer melhor o site You Tube. E, desde então, não desgrudo da tela do computador.
Entre um esquete de Ellen de Generes e outro de Johnny Carson, descobri um dos personagens mais engraçados de todos os tempos, criado pelo comediante inglês Sacha Baron Cohen. Seu nome é Borat e ele é "o segundo correspondente mais famoso do Cazaquistão". Sugiro que você entre no You Tube, digite o nome do personagem na área de busca e assista aos dois trailers do filme de Borat, que Baron Cohen acaba de lançar no Festival de Cinema de Toronto.
Depois, procure os esquetes/entrevistas de Borat no Sul dos EUA e degustando vinhos no Mississipi. Não digo mais para não estragar a surpresa, apenas que, nesta semana, a CNN revelou que o governo do Cazaquistão reagiu mal ao filme de Borat e que busca, na Justiça, compensações por difamação.
Outra entrevista que me chamou a atenção no You Tube foi a que deu o que falar nestes dias nos EUA. O repórter da Fox News Chris Wallace chamou Bill Clinton para conversar sobre os programas assistenciais nos quais o ex-presidente está envolvido. No meio da entrevista, porém, mudou de rota e resolveu perguntar se Clinton não achava que poderia ter feito mais para capturar Osama bin Laden. O ex-presidente ficou lívido e, com o dedo em riste, gastou seis minutos dizendo que a Fox está empenhada em uma campanha para tentar responsabilizá-lo por um insucesso que deveria ser atribuído ao presidente Bush.
De fato, a ira de Clinton se justifica. No livro "Contra Todos os Inimigos", citado na entrevista, o ex-czar do antiterrorismo, Richard Clarke, que trabalhou sob Ford, Carter, Reagan, Bush pai e Clinton e foi demitido por Bush filho, diz com todas as letras que George W. Bush ignorou o dossiê "Bin Laden determinado a atacar os Estados Unidos", que o serviço de inteligência forneceu à Casa Branca meses antes dos ataques às torres gêmeas.
O ex-presidente também esperneou quanto ao "timing" da Fox, famosa por seu conservadorismo. No mesmo dia em que Wallace marcou a entrevista com Clinton, foi divulgado um relatório que conclui que a invasão do Iraque tornou os americanos mais -e não menos- vulneráveis a ataques terroristas. Note que, assim como nós, os americanos estão em período de eleição e que, há duas semanas, a rede ABC (do também conservador grupo Disney) lançou o telefilme "The Path to 9/11", que mistura ficção e fatos e acusa Clinton de estar ocupado demais com o "affair" Monica Lewinsky para ir atrás de Bin Laden.
O mundo gira e a Lusitana roda. Se nós aqui temos um bando de "aloprados" que fabricam dossiês, nos EUA, que são bem mais experientes nesse negócio de democracia do que a gente, o governo é capaz de perseguir seus adversários usando o poder da mídia e de Hollywood.

barbara@uol.com.br


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