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Apesar de ganhar R$ 5 mil para sair, músico volta ao Conjunto Nacional
Ele descumpriu a medida, assinada em junho, e já deve R$ 7,6 mil à Justiça
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele ganhou R$ 5 mil para não
aparecer mais com sua flauta
no Conjunto Nacional, o tradicional condomínio na esquina
da av. Paulista com a rua Augusta, mas ignorou o acordo.
O músico Emerson Pinto, o
Pinzindim, que tocava havia 12
anos na galeria do conjunto,
alega que o documento, assinado em juízo em junho deste
ano, não poderia incluir a calçada do prédio. "Ninguém pode
me proibir de me apresentar
em um lugar público. Isso é inconstitucional."
"Ele leu e assinou o documento. Lá estava escrito: "Conjunto Nacional e entornos'", diz
a síndica, Vilma Paramezza.
No documento, ao qual a Folha teve acesso, o músico se
compromete a não tocar também nas calçadas.
A multa, por dia de desobediência, é R$ 380. Como o flautista ignorou o acordo, e foi flagrado pelo circuito interno da
galeria, sua dívida com a Justiça está em R$ 7,6 mil.
O convite para tocar na galeria, em 1995, partiu da própria
Vilma. Ela chamou também
engraxates. Fazia parte de uma
política para limpar as calçadas, com "responsabilidade social". Pinzindim diz que ganhava cerca de R$ 10 por dia.
A síndica diz que, com o tempo, o músico "passou dos limites": "Ele vinha tocar uma vez
por semana. Depois, começou a
vir todos os dias. Eu o chamei
para conversar, tentar estabelecer alguns limites, mas ele foi
sempre muito intransigente".
Convidado a se retirar da galeria, Pinzindim abriu um processo pedindo indenização pelo tempo em que tocou lá.
"Olha pra esses ônibus passando na Paulista. Engoli muita fumaça." A idéia do acordo surgiu
por conta desse pedido.
De acordo com a síndica,
uma semana após receber os
R$ 5 mil, Pinzindim voltou para fazer provocações.
Um dos principais problemas, diz Vilma, foi que o repertório sempre igual passou a incomodar os lojistas. "O Pedro
Herz [dono da Livraria Cultura] escreveu várias cartas para
o condomínio, se queixando."
A assessoria da livraria diz
que Herz não tinha conhecimento do assunto. "Ahauhauha, não tinha? Bom, ele não vai
mesmo perder tempo falando
com vocês [Folha]. Tem de ganhar dinheiro", diz a assessora
de imprensa do centro cultural
do conjunto, Valquíria Iacocca.
Iacocca foi acionada após
Pinzindim afirmar que, para
expor na galeria do prédio, artistas chegam a pagar R$ 6 mil.
Ela dá nova gargalhada: "Já viu
um artista que tenha esse dinheiro? Eles pagam convites,
banner, coquetel", explica.
Prestes a expor na galeria, a
gerente da Associação de Designers de Produtos, Marici Vila, afirma que não vai pagar nada. "Apenas o material de divulgação e a festa", diz.
Para explicar o porquê de
não escolher outro local, Pinzindim alega que já tinha criado um público na galeria. Ele
conta que até tentou ir para o
outro lado da rua, mas ninguém o deixou tocar ali. "Lá
tem seguranças também."
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