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outro lado
"Essa acusação é absurda; ele confessou tudo", diz delegado
José Vinciprova, que chefiava a equipe do DHPP, afirma que M.L. nunca sofreu tortura
DA REPORTAGEM LOCAL
O delegado José Vinciprova,
que chefiava a equipe do DHPP
(Departamento de Homicídios
e Proteção à Pessoa) que obteve
as nove confissões de M.L., diz
que o motoboy nunca sofreu
tortura: "Essa acusação é absurda. Ele confessou tudo, para
chegar pisando duro na cadeia
[para mostrar que é perigoso], e
depois reviu essa posição, talvez orientado por advogados".
Atualmente, Vinciprova é titular da 1ª Delegacia de Homicídios e responde pelas apurações desse tipo de crime em 37
distritos policiais.
Na semana das confissões,
Vinciprova estava em Brasília
fazendo um curso de interrogatório com policiais da Scotland
Yard, do Reino Unido. Mas ele
diz ter acompanhado as investigações preliminares em torno
dos homicídios que são atribuídos ao motoboy e os desdobramentos do caso.
O delegado Marcos Carneiro
Lima, superior hierárquico de
Vinciprova, diz: "No DHPP, a
principal preocupação é fazer
uma polícia republicana e impessoal. Não saímos da legalidade nunca".
Vinciprova afirma que a falta
de provas das nove acusações é
resultado das especificidades
do Capão Redondo, na zona sul.
"É muito difícil reunir provas
porque você não encontra testemunhas dispostas a falar."
Outra dificuldade para a obtenção de provas, de acordo
com ele, é o aprimoramento
técnico dos criminosos: "Hoje a
bandidagem está escolada. Eles
escondem o instrumento de
trabalho ou alugam a arma". Isso, para o delegado, dificulta
exames de balística que resultariam em provas materiais.
Vinciprova coloca em xeque
as declarações do motoboy de
que foi torturado porque ele
procurou o DHPP no início
deste mês para informar que
sofreu uma tentativa de homicídio. "Se aqui fosse um antro
de tortura, como ele diz, ele não
teria vindo aqui dizer que tentaram matá-lo."
Outro indicador de que a investigação tinha bases legais,
de acordo com Vinciprova, foi o
fato de que o Ministério Público não fez reparos ao inquérito.
Carneiro Lima diz que a presença de policiais na sala de
exames do IML (Instituto Médico Legal) não é ilegal nem
provoca constrangimentos no
preso. "São os médicos que pedem aos policiais para ficarem
na sala porque eles querem ser
protegidos."
Essa presença, na avaliação
dele, não gera distorções no
exame porque o médico não escreve o resultado na hora e entrega para o policial. O exame é
enviado posteriormente ao distrito, para ser anexado ao inquérito policial.
A Secretaria de Segurança
Pública diz que não houve a
abertura de investigações na
Corregedoria da Polícia Civil
para apurar suspeitas de tortura contra policiais do DHPP
nos últimos cinco anos.
Em nota, o órgão afirma: "A
SSP imprime aos seus policiais
o necessário respeito aos direitos e garantias individuais, assegurado pela Constituição a
todo cidadão, reforçando, inclusive, o número de horas/aula nas academias sobre disciplinas referentes aos Direitos Humanos. A SSP repudia toda e
qualquer forma de tortura, por
isso, ao menor indício, suas instituições, através dos respectivos órgãos corregedores, são
instruídas a instaurar procedimentos para a devida apuração
dos fatos".
A Folha procurou na última
semana o delegado Domingos
Paula Neto, que comandava o
DHPP no período em que o
motoboy e quatro co-réus relataram ter sofrido tortura, mas
o policial não ligou de volta.
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