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TRANSPORTE
Dono do segundo maior grupo de ônibus de SP diz que contratou militante do PT por sugestão de secretário de Marta
Empresário confirma indicação de petista
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
O empresário de ônibus Romero Teixeira Niquini, 48, segundo
maior da capital paulista, afirmou
ontem ter contratado Willian Ali
Chaim, militante histórico do PT,
após indicação do secretário dos
Transportes do governo Marta
Suplicy, Carlos Zarattini.
Em sua primeira entrevista à
Folha desde abril de 2001, Niquini
disse que pretendia deixar de operar suas viações na capital paulista, mas mudou de idéia com a indicação de Zarattini, após ser convocado para um encontro, em
maio deste ano.
Chaim se tornou diretor-presidente do grupo de ônibus. "E, para isso, eu achava que eu estava
dentro do sistema, que eu era
bem-vindo", afirma Niquini.
A informação, que é negada por
Zarattini, já havia sido dada há
dez dias pelo próprio Chaim, que
já trabalhou com José Dirceu, presidente nacional do PT, Rui Falcão, secretário de Governo de
Marta, e na campanha a deputado
federal de Ricardo Zarattini, pai
do secretário dos Transportes.
Há 50 dias, a prefeitura rompeu
os contratos que mantinha com
as viações de Niquini por irregularidades na prestação de contas
da arrecadação. A frota dele, de
900 ônibus, foi encampada, mas
os 71 veículos novos, de fabricação 2002, já foram retirados de
circulação -os últimos 24 deixaram as ruas ontem, porque as parcelas de financiamento não vinham sendo pagas ao banco.
Niquini diz que relatórios da
SPTrans (São Paulo Transporte)
confirmam não ter havido prejuízos ao sistema por causa da prestação de contas de suas viações.
Na entrevista, ele também comenta a sua relação com as administrações petistas. De um ano para cá, Niquini comprou duas empresas do setor de limpeza urbana
que atuam em prefeituras do PT,
herdando contratos que atingem
R$ 70 milhões -a Emparsanco
Belém Ambiental, da capital do
Pará, e a Cliba, de São Paulo.
Folha - A prefeitura rompeu os
contratos com as empresas de ônibus do sr. sob a alegação de fraude
nas contas. O que aconteceu?
Romero Niquini - É uma maldade, não só do secretário [Zarattini", como da SPTrans, porque eles
conhecem a verdade. Existem relatórios assinados por diversos
funcionários da SPTrans que dizem que nós não geramos prejuízos ao sistema. Nós tínhamos que
declarar uma receita de R$ 332
mil e declaramos R$ 335 mil.
Folha - Por que haveria interesse
dele em prejudicá-lo?
Niquini - No primeiro semestre,
eu achei que nós não éramos
bem-vindos no sistema de São
Paulo dada a quantidade de multas que nossas empresas sofreram, totalizando R$ 6 milhões.
Vimos que não iríamos aguentar
e estávamos preparados para sair
do sistema, quando ele [Zarattini]
me convocou perguntando se eu
queria sair do sistema.
Folha - Qual foi a reação do sr.?
Niquini - Eu falei que, se achasse
oportunidade, sairia. A conversa
foi se desenvolvendo quando ele
me sugeriu que eu contratasse um
operacional e me sugeriu Willian
Chaim. Como ele fora comentado
por outras pessoas, eu resolvi chamá-lo para conversar. Imediatamente, coisa de duas horas depois, liguei para Zarattini: "Estou
contratando". E me senti confortável: "Se ele está me indicando alguém para poder operacionalizar
minhas empresas, é porque não
me querem fora do sistema, é porque acham que eu tenho espaço".
E, realmente, a indicação foi perfeita. Em junho, Chaim virou presidente, com um resultado fantástico. Eu só posso agradecer ao secretário pela indicação. E, para isso, eu achava que estava dentro
do sistema, que era bem-vindo.
Folha - Qual era a intenção do secretário com a indicação?
Niquini - A indicação dele foi
realmente para nos ajudar.
Folha - Mas por que, então, ele
rompeu os contratos?
Niquini - É inexplicável. Não
consigo imaginar. Talvez, para
demonstrar poder. O secretário é
muito poderoso. Ele é talvez um
dos secretários mais poderosos
do Brasil, pelo menos financeiramente. Ele administra hoje R$ 3
bilhões por ano [contando a arrecadação tarifária do sistema e as
verbas orçamentárias".
Folha - O sr. mantinha um bom
contato com Zarattini para ele dar
uma indicação?
Niquini - Sempre mantive. Mas
desconhecia esse lado autoritário
e até de certa forma de ditador do
secretário. A partir da intervenção
da prefeitura, não fomos chamados para discutir. Não tivemos
outra opção, a não ser ir à Justiça.
Talvez, quem administra R$ 3 bilhões se sinta tão forte que passa
até a desrespeitar a Justiça. A decisão judicial diz que ele não pode
redistribuir linhas de ônibus e várias coisas que ele vem fazendo.
Folha - O sr. vê com naturalidade
uma indicação do secretário dos
Transportes a um grupo de ônibus?
Niquini - Com certeza. Ele estava
querendo resolver um problema
do transporte, achava que a nossa
empresa não estava trabalhando
em sua plenitude. Eu achei, com
naturalidade, que ele estava querendo me ajudar.
Folha - Em quase dois anos de relacionamento com a administração
Marta, é possível dizer se há algum
esquema irregular na prefeitura?
Niquini - A única estranheza que
me causa é esse contrato emergencial de 31 de julho [assinado
por seis meses e que chegou a ser
boicotado por algumas viações,
inclusive as de Niquini", que, não
posso te afirmar se tem alguma
coisa, mas, aparentemente, estaria beneficiando algumas áreas.
Folha - Os contratos do sr. com
administrações petistas já foram
alvo de suspeita do Ministério Público e de vereadores. Trabalhar
com governos do PT é bom?
Niquini - Com a Lei de Responsabilidade Fiscal, ficou mais fácil
trabalhar com as prefeituras. Se
você faz seu serviço, recebe. Se
não faz, não recebe. Então, é como se nós estivéssemos trabalhando para qualquer cliente normal. Eles são sérios.
Folha - Mas é bom trabalhar com
administrações petistas?
Niquini - Com certeza. Toda administração séria é bom para se
trabalhar.
Folha - O sr. foi procurado neste
ano pelo PT para financiar campanhas?
Niquini - Não, em momento algum, mesmo porque nós já estamos nesse briga com a Secretaria
dos Transportes desde a hora do
afunilamento da campanha.
Folha - O que o sr. achou da eleição do Lula?
Niquini - Acho que devemos
sentir um orgulho muito grande.
É uma esperança. O Lula já demonstrou sua competência, vai
ser um cara que vai surpreender
muito. Estava na hora de mudar.
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