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RIO
Segundo investigação, jovens da zona sul viram traficantes e fornecem a "colegas" do morro a droga artificial e maconha
Classe média abastece favela com ecstasy
Felipe Varanda/Folha Imagem
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Rogério Azevedo Carreteiro, acusado de integrar quadrilha |
FABIANA CIMIERI
TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DO RIO
De clientes, jovens da classe média carioca passaram a fornecedores do tráfico nas favelas da Rocinha (zona sul do Rio), do Vidigal
(zona sul) e de Niterói (cidade a 15
km da capital fluminense).
Investigação da 16ª DP (Delegacia de Polícia), na Barra da Tijuca
(zona oeste), indica que os traficantes de classe média, criados na
região mais nobre do Rio, estariam fornecendo a droga sintética
ecstasy vendida nas bocas-de-fumo da Rocinha.
Na 15ª DP (Gávea, zona sul), outra investigação está chegando a
conclusão semelhante. Traficantes do Vidigal são abastecidos por
por moradores da zona sul. O
grupo também fornece maconha
e haxixe para favelas niteroienses.
Em decorrência da investigação
da delegacia da Barra, o universitário M.A.H.J, 22, e o publicitário Daniel
Cruz de Almeida, 22, foram presos em Copacabana (zona sul), no
último dia 14. Teriam sido flagrados com 300 gramas de maconha.
Na delegacia, os dois não depuseram. Disseram que só falarão
em juízo. A Folha não conseguiu
ouvir seus advogados.
O inquérito acusa a dupla de
montar um disque-drogas para
consumidores de classe média alta na Barra. Eles forneceriam maconha, cocaína e ecstasy.
No mesmo dia, outra prisão reforçou a suspeita de que jovens de
classe média estariam fornecendo
ecstasy para traficantes da Rocinha. Na Gávea, um suposto traficante radicado na favela teria sido
flagrado com 20 comprimidos.
Ele seria o fornecedor de maconha e cocaína ao disque-drogas.
Ecstasy na Rocinha
Os policiais descobriram que já
há comprimidos da droga sintética nas bocas-de-fumo da Rocinha. A venda de ecstasy ainda não
havia sido constatada em favelas.
O ecstasy é uma droga produzida em laboratório e usada pela
classe média alta em festas e boates. O comprimido custa R$ 35.
A 15ª DP descobriu uma quadrilha de classe média que estaria
fornecendo maconha do Paraguai
a traficantes de favelas.
Dois supostos integrantes da
quadrilha, Odim Victor Americano Sandahl Filho, 33, e Alan
Klauss Andrade, 33, foram presos
em um prédio no Bairro Peixoto
(Copacabana), no dia 15. Segundo
a polícia, eles guardavam 430 kg
de maconha e 500 bolas de haxixe
na garagem do edifício. Acusado
de integrar a quadrilha, Rogério
Azevedo Carreteiro, 24, foi preso
anteontem. Ele morava no prédio
onde a maconha foi apreendida.
Sandahl Filho é morador do Jardim Botânico. Andrade, de Niterói. Os três negam ser traficantes.
Para o antropólogo Gilberto Velho, os jovens de classe média estão suscetíveis a entrar para o narcotráfico por causa da desvalorização do trabalho: "Eles querem
ter independência com pressa e
voracidade. Não aguentam esperar, fazer uma faculdade, arrumar
emprego em que vão ganhar num
mês o que ganham num fim de semana vendendo drogas".
Já a inspetora Marina Maggessi,
coordenadora de Inteligência da
Secretaria de Segurança do Estado do Rio, considera que a maioria dos traficantes de classe média
entra no negócio por ser viciada.
Ela afirma que, diferentemente
dos traficantes pobres, eles atuam
de forma autônoma. Segundo ela,
muitas vezes um deles viaja para
buscar droga no Paraguai ou na
Colômbia, mas depois da volta
cada um age sozinho, vendendo
para seu círculo de amigos.
Além do tráfico de drogas, jovens de classe média se associaram para outros crimes. A 13ª DP
(Delegacia de Polícia), em Copacabana, investiga uma quadrilha
formada por cerca de 40 jovens
acusados de assaltar casas e espancar suas vítimas.
A quadrilha teria assaltado, segundo a polícia, pelo menos um
hotel e cinco apartamentos, entre
eles o do ministro Luiz Fux, 50, do
STJ (Superior Tribunal de Justiça), em maio deste ano. Foram
presos sete acusados, todos são de
classe média.
A delegada-adjunta da 13ª DP,
Andréa Menezes, afirmou que os
integrantes do grupo são, na
maioria, moradores de Copacabana. Também há suspeitos de
Ipanema e de favelas da região.
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