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São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2003

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POLÍCIA

Promotoria diz que transcrição de conversa com mulher de traficante foi adulterada em Santos; secretaria vai apurar

Peritos são afastados por suspeita de fraude

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público de São Paulo afirma que um laudo de transcrição de uma conversa gravada foi fraudado por peritos do IC (Instituto de Criminalística) para beneficiar o traficante carioca Robson André da Silva, o Robinho Pinga. Ele é apontado pela polícia fluminense como membro da facção TCP (Terceiro Comando Puro) e líder do tráfico de drogas em 12 favelas do Rio.
Dois peritos do IC de Santos (litoral paulista) foram afastados ontem pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que promete investigar o caso.
A conversa gravada era entre Márcia Cristina Alves de Araújo, mulher do traficante, e policiais militares de Peruíbe (litoral de SP), onde ela foi presa em outubro do ano passado por uso de documentos falsos, depósito ilegal de armas e corrupção ativa. Nos diálogos, segundo promotores, ela fala do esquema do tráfico liderado pelo marido, cita valores e apelidos de pessoas envolvidas.
Márcia de Araújo, que na época tinha passado por uma briga conjugal com o traficante, consentiu com a gravação. A conversa foi a principal prova para indiciar Robinho Pinga pelo crime de associação para o tráfico e decretar a sua prisão -ele está foragido.
Só que ela negou o teor da conversa à Justiça. Restava a fita gravada. O laudo feito por dois peritos do IC de Santos, no entanto, provocou desconfiança. Um dos PMs que gravou a conversa leu o laudo anexado ao processo e disse ter percebido a fraude.
O documento não trazia as principais informações que incriminavam Robinho Pinga. Diálogos foram considerados "ininteligíveis" e outros teriam sido simplesmente retirados. "É flagrante a falsidade do laudo", disse Enilson Komono, do Gecep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial), um dos promotores designados pela Procuradoria Geral de Justiça para acompanhar o caso.
Segundo Komono, foram retirados trechos nos quais Márcia de Araújo fala que Robinho Pinga traz a droga da Bolívia, movimenta R$ 300 mil por mês, conta com cerca de 50 homens bem armados e que chegou a subornar policiais cariocas com R$ 500 mil para evitar a prisão em flagrante.
"O laudo do IC foi estranhamente entregue primeiro à defesa do traficante, que tentou anular o mandado de prisão, e só depois foi enviado à Justiça e à Promotoria", afirmou Komono.
Técnicos do Ministério Público fizeram um segundo laudo. Enquanto o documento do IC apontou 421 diálogos (compreensíveis ou não), o laudo da Promotoria descreveu 522 -101 a mais. Na transcrição do IC, 96 diálogos foram considerados totalmente "ininteligíveis" -22,8%. No laudo da Promotoria, apenas 52 diálogos foram descritos como totalmente incompreensíveis (9,9%).
O Ministério Público solicitou ontem que a Justiça de Peruíbe nomeie novos técnicos para a realização de um terceiro laudo. Os promotores também solicitaram inquérito policial para investigar os dois peritos.
A assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou, por nota, que recebeu a denúncia ontem à tarde e que a encaminhou à Corregedoria da Polícia Civil, que vai abrir inquérito e processo administrativo contra os dois peritos do IC de Santos.
Segundo a assessoria, a Superintendência de Polícia Técnica Científica iria afastar preventivamente ontem os peritos até a conclusão das investigações.


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