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POLÍCIA
Promotoria diz que transcrição de conversa com mulher de traficante foi adulterada em Santos; secretaria vai apurar
Peritos são afastados por suspeita de fraude
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público de São
Paulo afirma que um laudo de
transcrição de uma conversa gravada foi fraudado por peritos do
IC (Instituto de Criminalística)
para beneficiar o traficante carioca Robson André da Silva, o Robinho Pinga. Ele é apontado pela
polícia fluminense como membro da facção TCP (Terceiro Comando Puro) e líder do tráfico de
drogas em 12 favelas do Rio.
Dois peritos do IC de Santos (litoral paulista) foram afastados
ontem pela Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, que
promete investigar o caso.
A conversa gravada era entre
Márcia Cristina Alves de Araújo,
mulher do traficante, e policiais
militares de Peruíbe (litoral de
SP), onde ela foi presa em outubro do ano passado por uso de
documentos falsos, depósito ilegal de armas e corrupção ativa.
Nos diálogos, segundo promotores, ela fala do esquema do tráfico
liderado pelo marido, cita valores
e apelidos de pessoas envolvidas.
Márcia de Araújo, que na época
tinha passado por uma briga conjugal com o traficante, consentiu
com a gravação. A conversa foi a
principal prova para indiciar Robinho Pinga pelo crime de associação para o tráfico e decretar a
sua prisão -ele está foragido.
Só que ela negou o teor da conversa à Justiça. Restava a fita gravada. O laudo feito por dois peritos do IC de Santos, no entanto,
provocou desconfiança. Um dos
PMs que gravou a conversa leu o
laudo anexado ao processo e disse
ter percebido a fraude.
O documento não trazia as
principais informações que incriminavam Robinho Pinga. Diálogos foram considerados "ininteligíveis" e outros teriam sido simplesmente retirados. "É flagrante
a falsidade do laudo", disse Enilson Komono, do Gecep (Grupo
de Atuação Especial de Controle
Externo da Atividade Policial),
um dos promotores designados
pela Procuradoria Geral de Justiça
para acompanhar o caso.
Segundo Komono, foram retirados trechos nos quais Márcia de
Araújo fala que Robinho Pinga
traz a droga da Bolívia, movimenta R$ 300 mil por mês, conta com
cerca de 50 homens bem armados
e que chegou a subornar policiais
cariocas com R$ 500 mil para evitar a prisão em flagrante.
"O laudo do IC foi estranhamente entregue primeiro à defesa
do traficante, que tentou anular o
mandado de prisão, e só depois
foi enviado à Justiça e à Promotoria", afirmou Komono.
Técnicos do Ministério Público
fizeram um segundo laudo. Enquanto o documento do IC apontou 421 diálogos (compreensíveis
ou não), o laudo da Promotoria
descreveu 522 -101 a mais. Na
transcrição do IC, 96 diálogos foram considerados totalmente
"ininteligíveis" -22,8%. No laudo da Promotoria, apenas 52 diálogos foram descritos como totalmente incompreensíveis (9,9%).
O Ministério Público solicitou
ontem que a Justiça de Peruíbe
nomeie novos técnicos para a realização de um terceiro laudo. Os
promotores também solicitaram
inquérito policial para investigar
os dois peritos.
A assessoria da Secretaria da Segurança Pública informou, por
nota, que recebeu a denúncia ontem à tarde e que a encaminhou à
Corregedoria da Polícia Civil, que
vai abrir inquérito e processo administrativo contra os dois peritos do IC de Santos.
Segundo a assessoria, a Superintendência de Polícia Técnica
Científica iria afastar preventivamente ontem os peritos até a conclusão das investigações.
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