São Paulo, sexta-feira, 29 de outubro de 2004

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VIOLÊNCIA

Revolta ocorreu após o governo do Rio de Janeiro transferir PMs que aguardam julgamento para presídio comum

Rebelião de policiais presos dura 19 horas

Domingos Peixoto/Agência O Globo
Presos amotinados exibem colete da PM e cartaz pela janela de uma das celas da Casa de Custódia


MARIO HUGO MONKEN
DA SUCURSAL DO RIO

Após 19 horas, terminou ontem a rebelião organizada por policiais militares presos no Centro de Observação e Reintegração Social, antiga Casa de Custódia de Benfica (zona norte do Rio). O motim só foi controlado após o Batalhão de Choque ter invadido o presídio. Não houve feridos.
Os PMs fizeram a rebelião para protestar contra a decisão da cúpula da corporação que determinou a desativação de todas as carceragens dos batalhões.
Os policiais, que ainda aguardam julgamento, haviam sido transferidos para o presídio anteontem, no mesmo local onde 57 presos comuns, vinculados à facção criminosa CV (Comando Vermelho), cumprem pena.
Os policiais foram primeiramente alojados na carceragem do Ponto Zero que, até setembro, abrigava presos com curso superior. Durante o motim, iniciado às 16h de anteontem, os PMs depredaram o local. Foram, então, anteontem mesmo, removidos para o 4º andar do presídio, onde voltaram a se rebelar. Os presos comuns ocupam os 2º e 3º andares.
Os 77 amotinados dizem que a mudança para o presídio feriu o estatuto da PM, segundo o qual PMs devem ficar presos em unidades militares até que sejam julgamento e expulsos da polícia.
O presidente da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa do Rio, Flávio Bolsonaro (PP), disse ter informações de que PMs presos foram obrigados a comer usando pratos onde haviam inscrições com a sigla CV.
Para o presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Geraldo Moreira (PSB), a transferência foi "arbitrária".
O presidente da Associação dos Ativos e Inativos da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros (Assinap), Miguel Cordeiro, afirmou que tentará anular a transferência na Justiça. "Os presos comuns teriam de ter sido retirados de lá."

Bomba de efeito moral
Para conseguir entrar ontem na carceragem, o Batalhão de Choque atirou bombas de efeito moral, o que fez os presos se renderem. Os policiais presos haviam montado barreiras com as camas de ferro na porta das galerias para impedir a entrada do batalhão.
Entre os PMs presos, estão Ítalo Pereira Campos, Alexsander Duarte da Silva e Marcelo Silva Conceição, acusados de participação na morte do guardador de carros Leandro dos Santos Silva, em dezembro de 2003, na favela Parada de Lucas (zona norte).
Participou também do motim o major Luiz Matias, que dirigia o presídio Ary Franco, (zona norte) na época da morte do comerciante sino-brasileiro Chan Kim Chang, em setembro de 2003.
Durante todo o dia, parentes dos policiais presos ficaram do lado de fora do presídio a espera de notícias e se desesperavam quando ouviam gritos vindos da carceragem. O motim fez com que duas escolas que ficam em frente ao presídio não abrissem ontem.
Os familiares afirmaram que só souberam da transferência quando os presos já estavam em Benfica e disseram que o Batalhão de Choque, onde havia uma das carceragens, não permitiram que os policiais levassem seus pertences.


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