|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PUC acaba com déficit após seis anos
Depois de demissões e mudanças administrativas, universidade operou "no azul" durante todo o ano, o que não ocorria desde 2000
Instituição perdeu 30% dos docentes e reduziu pesquisa; professores reclamam de acúmulo de aulas e alunos desconfiam de medidas
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Após a demissão de 30% dos
professores, mudanças administrativas e uma interferência
da Igreja Católica, a PUC-SP
começou a sair do sufoco financeiro: em todos os meses deste
ano, a universidade conseguiu
operar sem déficit, fato que não
ocorria desde 2000.
A previsão da universidade é
que a situação positiva se mantenha, mesmo com o pagamento do 13º salário e das parcelas
da dívida bancária, que totaliza
R$ 104,7 milhões. As prestações começaram a ser quitadas
neste mês.
O promotor de fundações do
Ministério Público Airton
Grazzioli, que fez uma auditoria na PUC e continua acompanhando as contas da universidade, projeta até mesmo um
superávit de R$ 3,9 milhões ao
final deste ano. "As medidas foram amargas, mas trouxeram
resultados positivos", disse.
A instituição só não fechará
2006 "no azul" caso haja atraso
no repasse de recursos públicos
para pagar a prestação de serviços na área de saúde, feita pela
universidade. Nessa projeção
mais pessimista, a reitoria estima um déficit para 2006 de R$
818 mil. No ano passado, o valor
foi de R$ 44 milhões e, em
2004, de R$ 30 milhões.
"Mesmo o pior cenário para
este ano seria uma vitória. Chegamos a um equilíbrio financeiro sem descaracterizar a universidade", afirmou à Folha a
reitora Maura Véras.
Histórico
Iniciada em 2001, com um
pequeno déficit de R$ 4 milhões, a crise na PUC se intensificou em 2004, quando a diferença era equivalente a duas folhas de pagamento. Naquele
momento, a universidade tomava empréstimos para pagar
dívidas de curto prazo e chegou
a dever para 14 bancos.
Os dois maiores causadores
da dívida eram o volume de recursos utilizados para pagar salários (cerca de 90% de toda a
receita) e o hospital Santa Lucinda, em Sorocaba (100 km de
São Paulo), que teve déficits
mensais de quase R$ 1 milhão.
Em 2005, no primeiro ano da
gestão da reitora Véras, a dívida
foi concentrada no Bradesco e
no ABN Amro Real, que concederam empréstimo de R$ 82
milhões, com juros menores e
cujas parcelas passaram a ser
pagas só em outubro deste ano,
dando um "fôlego" à PUC.
Mas uma das cláusulas do
acordo era que a universidade
teria de diminuir seu déficit,
que estava na casa dos R$ 4 milhões ao mês. Em razão disso, a
instituição começou a aplicar
medidas para cortar gastos.
A mais drástica delas foi a demissão de 420 professores e
262 funcionários, o que equivalia a cerca de 30% do total. Para
pagar as dívidas trabalhistas, a
instituição tomou novo empréstimo, de R$ 25 milhões.
Os cortes ocorreram em duas
fases. Na primeira, todas as
unidades foram consultadas e
indicaram os nomes a serem
desligados. Como esse procedimento não foi suficiente, o cardeal dom Cláudio Hummes
-que ocupa o principal cargo
da mantenedora da PUC e é
avalista da dívida- nomeou
dois padres, que definiram a lista final de demissões.
Tradicionalmente, a Igreja
Católica não interferia em assuntos na estrutura da escola.
Os desligamentos da segunda
etapa foram considerados arbitrários pelo Conselho Universitário, órgão máximo da instituição, que tentou revertê-los.
A posição da mantenedora, porém, prevaleceu.
As demissões fizeram com
que as despesas com a folha salarial caíssem de 90% para 67%
da receita da instituição.
Após os cortes, a média na
PUC ficou em um professor para cada 11 estudantes, indicador
semelhante às instituições estaduais paulistas (que inclui
USP, Unesp e Unicamp), em
que a média é de 9,2.
No hospital Santa Lucinda,
além das demissões, houve mudanças administrativas, o que
levou a entidade a "zerar" seu
déficit no mês passado.
Pesquisa
Outra medida tomada foi a
exigência de que os professores
dedicassem mais tempo às aulas e menos às outras atividades, como a pesquisa.
A PUC possui um regime de
trabalho em que parte da remuneração do professor é destinado para que ele faça atividades
fora da aula, prática que difere
das outras universidades privadas, onde o docente ganha por
hora-aula dada.
A nova determinação, como
gerou uma demanda menor
por professores, ajudou no desligamento de alguns docentes.
Todas essas mudanças causaram sobrecarga nos professores, afirma o diretor da Apropuc (associação dos docentes),
Erson de Oliveira. "Eu, por
exemplo, tinha duas disciplinas. Agora, tenho quatro. Isso
prejudica, porque você tem
menos tempo para preparar as
aulas, atender os alunos, corrigir provas", disse. "Mas também há pontos positivos. Agora
recebemos os salários em dia."
No auge da crise, o pagamento
foi feito em até quatro vezes.
Já o presidente do centro
acadêmico de direito, Esteban
Saavedra Sandy, vê com desconfiança a decisão da universidade de aumentar o número
de vagas em alguns cursos no
próximo vestibular (em direito,
subirá de 500 para 550). "Já
não havia salas livres e o número de professores estava no limite. Preocupa como será a absorção dessas novas vagas."
A reitoria diz que nenhuma
classe terá mais de 60 alunos e
que os professores ficam, no
máximo, metade do tempo na
sala de aula, podendo utilizar o
restante da carga horária para
pesquisa e outras atividades.
Texto Anterior: Prefeito nega acordos com parlamentares Próximo Texto: Instituição tem mais doutores que as fede rais Índice
|