São Paulo, domingo, 29 de outubro de 2006

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Após 30 h, homem mata a amante grávida e se suicida

A mulher do comerciante, que também era mantida refém, saiu ilesa

Armado, Gilberto Gomes de Lima se trancou com as duas dentro de sua loja no início da madrugada de sexta, na zona leste de São Paulo

REGIANE SOARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Dois mortos. Esse foi o desfecho do drama passional iniciado na última quinta-feira em Cidade Tiradentes, bairro do extremo leste de São Paulo.
Após manter em cárcere privado por cerca de 30 horas a mulher, Gilvanete da Silva de Lima, 37, e a amante grávida, Andreia Pereira Santana, 31, o comerciante Gilberto Gomes de Lima, 43, matou Andreia, ontem de manhã, com um tiro no pescoço e depois se suicidou com um tiro no ouvido esquerdo. Gilvanete não foi ferida.
Andreia era casada havia 12 anos com o marceneiro Edson Pereira Dutra, 34, tinha dois filhos e estava grávida de dois meses, supostamente de Lima. Para a família de Lima, esse teria sido o motivo do crime.
"Ela [Andreia] afirmava que o filho era dele e queria que ele lhe desse dinheiro para fazer um aborto", disse Nizete Gomes de Lima, irmã do comerciante. Lima tinha dois filhos, de 21 e 19 anos, com Gilvanete.
O romance entre Lima e Andreia era de conhecimento de Gilvanete e da família havia pelo menos quatro meses. Segundo Nizete, o irmão estava tentando sair do relacionamento.
O drama começou na tarde da última quinta-feira, quando Andreia foi até a loja de Lima depois de deixar um dos filhos na escola. Segundo vizinhos, eles começaram a discutir, e Lima baixou a porta da loja onde vendia móveis. Gilvanete foi até o local após telefonar para lá e ser atendida por Andreia.
Por volta das 23h30, alertado por uma irmã de Andreia de que a mulher poderia estar na loja de Lima, o marido da moça foi ao local com três amigos. Ele tentou abrir a porta, mas Lima fez quatro disparos. Acionada pelo marido de Andreia, a polícia chegou por volta da meia-noite e também foi recebida a tiros. Depois disso, começaram o cerco e as negociações.
Durante as cerca de 30 horas em que permaneceu cercado pela polícia no cômodo sem janelas e com uma única porta, o comerciante conversou pelo telefone com a mãe e com alguns dos dez irmãos várias vezes, mas ninguém conseguiu convencê-lo a se entregar. "Nós não tínhamos esperança nenhuma, porque ele já tinha dito [por telefone] que só sairia de lá morto", disse Nizete. Lima não fez nenhuma exigência para liberar as mulheres.
Ontem, por volta das 6h15, o filho de Lima, Gilmar da Silva Lima, 21, cobrador de ônibus, tentou fazer o pai se render. O comerciante disse que se entregaria e libertaria as mulheres.
Às 6h30, porém, foram ouvidos dois tiros. A polícia arrombou a porta de aço, mas teve dificuldade para entrar porque o marceneiro tinha montado uma barricada com móveis.
Os policiais encontraram Lima deitado em uma cama e Andreia caída no chão. O revólver, próximo ao corpo dele, tinha ainda quatro balas no tambor.
Gilvanete saiu andando. Lima e Andreia foram levados ao hospital de Guaianazes. Gilvanete, bastante nervosa, foi encaminhada ao hospital do Itaim Paulista (zona leste). Foi medicada, mas não quis esperar por um exame mais detalhado.
As irmãs de Lima disseram que ele era uma pessoa "calma e tranqüila", mas que já esperavam pela tragédia, pois o irmão jamais se entregaria à polícia com receio de ser preso. Segundo a Secretaria da Segurança, Lima não tinha ficha criminal.
No final da tarde, o marido de Andreia prestou depoimento no 54º DP e disse que só na quinta-feira, após o sumiço da mulher, ficou sabendo do relacionamento que ela mantinha com o comerciante. Disse ainda que não sabia da gravidez.
Lima será enterrado à tarde. Até a conclusão desta edição, a família de Andreia não tinha comparecido ao IML para liberar seu corpo.
O coronel da PM Joviano Conceição Lima, que comandou a operação, disse que a possibilidade de usar gás sonífero para "apagar" Lima e as reféns foi descartada porque a polícia não tem autorização para empregar esse tipo de produto.


Colaboraram MARIANA TAMARI, JOSÉ ERNESTO CREDENDIO e GUSTAVO PETRÓ, da Reportagem Local, e o "Agora"


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