São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2000

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EDUCAÇÃO
Estudo mostra que a escola é responsável por, no máximo, 25% do desempenho do aluno e que a ação dos pais é decisiva
Interesse da família melhora rendimento

LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O resultado do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), apresentado ontem, revela mais do que problemas na qualidade da educação. Entre os números estão dados que mostram o que influencia o aprendizado de alunos brasileiros.
Um estudo feito pelo professor José Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a pedido do Ministério da Educação, mostra que, entre os fatores que influenciam o desempenho do estudante, nem todos são de responsabilidade do professor ou da escola.
"No nosso país, a escola é responsável por algo entre 15% e 25% do resultado que a criança tem. O resto é a família", diz.
O professor afirma que nos países desenvolvidos o percentual é muito menor. "Aqui a situação da escola ainda é crucial."
O estudo, feito por Soares a partir dos resultados do Saeb de 99, mostra que a motivação do aluno -traduzida em fazer a lição de casa, ter oportunidades de leitura e até algum interesse por informática- resulta em um acréscimo de 11 pontos na média de desempenho nas provas de matemática da 8ª série, por exemplo.
Fazer a lição de casa pode representar um aumento de até 24 pontos nas médias de matemática.
Em português, a diferença entre a pontuação dos alunos que fazem e a dos que não fazem a lição no 3º ano do ensino médio chega a 17 pontos. No item, a média geral ficou em 266 pontos em 1999.
"Não é necessariamente o grau de instrução dos pais, mas o interesse deles pelo estudo dos filhos que aponta a diferença. Coisas como cobrar a lição de casa e perguntar sobre o que está aprendendo", afirmou o professor.

Estrutura
Além do interesse da família, há outro fator que influencia, e muito, o rendimento do aluno -o que o estudo chama de "marginalização".
Entra nessa questão, por exemplo, morar em uma casa que tenha água, luz e esgoto ou em uma rua com calçamento. Em média, aponta a pesquisa, o desempenho cai 2,5 pontos quando o estudante não tem estrutura em casa. No caso do trabalho, a média chega a cair 23 pontos (na 4ª série em português e no 3º ano em matemática) se o estudante trabalha.
Por esses motivos, Soares alerta que a escola não pode resolver sozinha o problema de desempenho dos alunos. Mas pode ajudar.
Outras questões são exclusivamente de responsabilidade do sistema. Entre elas, a atitude do professor em sala de aula. "Um professor que presta mais atenção ao aluno tem uma turma com rendimento melhor."
Não é apenas isso. O estudo mostra também que a expectativa que o professor tem em relação ao estudante influencia no seu rendimento. Além disso, a formação do professor e os seus rendimentos têm importância no desempenho.
Para o Ministério da Educação, as políticas que estão sendo implementadas ajudaram a compensar a inclusão de novos alunos com dificuldades. "Temos mostras de que o uso de livros didáticos e dos computadores melhora a qualidade nas salas de aula", afirmou o ministro Paulo Renato Souza.


Texto Anterior: Projeto do ministério treina professor para alfabetização
Próximo Texto: Infância: Fundação Abrinq entrega premiação hoje
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.