São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 2006

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Hospitais podem ficar sem estoque de imunoglobulina a partir de amanhã

CONSTANÇA TATSCH
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos 200 pacientes do Hospital das Clínicas de São Paulo que necessitam de imunoglobulina humana endovenosa devem ficar, a partir de amanhã, sem o tratamento. Os estoques do hospital, assim como os de todo o país, estão no limite, pois o medicamento é importado e está em falta no mercado mundial.
A imunoglobulina é usada no tratamento de diversas imunodeficiências. Sem o medicamento, cada caso deve ser analisado pelos médicos em busca de alternativas. Outros tipos de imunoglobulina ainda podem ser encontrados, mas também têm prazo para acabar.
Para o diretor-executivo do Instituto Central do HC, Waldemir Rezende, faltou "agilidade" ao Ministério da Saúde. "Era uma crise anunciada. Tudo que depende de um outro país te faz refém", diz ele.
A falta da imunoglobulina ocorre porque os Estados Unidos, principal exportador de plasma sangüíneo -matéria-prima do medicamento-, suspenderam as vendas. Assim, os laboratórios deixaram de fazer a imunoglobulina, e o governo federal não encontrou mais o produto para a venda.
A professora Maria Lígia Fernandes Santiago, 58, está entre os pacientes que correm o risco de ficar sem a imunoglobulina. Ela sofre de uma doença rara chamada de neuropatia axonal crônica e, em setembro, havia perdido todo o movimento da perna direita. Foi quando começou o tratamento com o medicamento. Passados três meses, ela já consegue andar com andador e precisa de, pelo menos, mais três meses de tratamento. "Estou preocupadíssima porque, se não tiver o remédio, pode regredir tudo o que já melhorou. Não sei o que vai acontecer", afirma.

Medidas
O Ministério da Saúde explica que, em setembro, quando o Brasil fez a última compra do medicamento, já não encontrou a quantidade de que precisava. Desde então, a pasta encaminhou ofícios para as secretarias estaduais de Saúde pedindo a contenção do uso da imunoglobulina 5g. Até ontem, nenhum Estado havia zerado seu estoque do produto. Caso necessário, o ministério tem estoque de emergência.
Na última sexta-feira, foi aberto um pregão eletrônico para a compra do produto, que deverá acontecer no dia 6. O ministério, com a ajuda da Organização Pan-Americana de Saúde, identificou um fornecedor internacional da imunoglobulina apto a participar. Formalizada a compra, o fornecedor terá 30 dias para a entrega, mas será solicitada urgência.
O ministério também afirma que vem tomando medidas para evitar que o problema se repita a médio e longo prazo. No início de 2007 deverá ser publicado um edital de licitação internacional para contratar uma empresa que fracione o plasma brasileiro e produza a imunoglobulina. Assim, o país não será mais dependente de plasma estrangeiro.


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