São Paulo, domingo, 29 de novembro de 2009

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Corredeiras em Socorro poderão ter usinas hidrelétricas

Comerciantes e moradores da região temem que projeto possa afetar o turismo esportivo nas cachoeiras da cidade

Empresa de Goiânia quer construir cinco miniusinas na divisa entre São Paulo e Minas Gerais para vender energia elétrica no mercado


EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL

Socorro (134 km de São Paulo) é uma cidade que descobriu, na última década, a indústria do turismo de aventura. Uma vocação que, segundo um grupo de empresários da região, está ameaçada.
O motivo é ambiental. Existe um projeto para a construção de cinco miniusinas na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Cada central vai gerar até 1 MWh de energia, o suficiente para abastecer aproximadamente 8.000 habitantes.
A Toctao engenharia, empresa de Goiânia, dona do projeto, nega qualquer impacto para a região. A ideia da firma é vender energia para o sistema convencional de distribuição.
Apesar de apenas um projeto estar localizado em Socorro, João Gabriel Tannus, ambientalista e empresário, afirma que o pacote de usinas deve ser analisado em conjunto. "Todas estão na mesma bacia", afirma.
Hoje, o projeto suscita duas questões muito prementes para os empresários de Socorro. Uma delas diz respeito a vazão que os rios vão ter após a instalação das usinas.
"No período seco, é possível que o rio Cachoeirinha [para onde estão projetadas duas das cinco usinas], por exemplo, tenha sua vazão muito reduzida, o que inviabilizaria as atividades turísticas praticadas na região", diz Tannus.
Apesar de boa parte das áreas impactadas não serem usadas ainda para o turismo atualmente, os empresários dizem que todas as corredeiras e cachoeiras da área, por causa de sua "beleza cênica", têm um grande potencial turístico.
"Não somos contra as usinas, mas por que elas serão feitas exatamente aqui? Esse projeto não combina com o turismo de aventura", afirma Sebastião Ginghini, hoteleiro na região.
Em Socorro são praticados esportes como o rafting, a canoagem e o boiacross. O outro medo dos empresários é que essas atividades, no futuro, acabem sendo freadas.
A cidade tem hoje 45 pousadas e hotéis atrelados ao turismo. Por ano, ela recebe 500 mil turistas. O movimento do setor, segundo a prefeitura, chega aos R$ 40 milhões por ano. E, em termos de emprego, 1.500 pessoas trabalham diretamente com as atividades turísticas.
O projeto funciona da mesma forma em todos os casos. Em alguns deles, corredeiras e cachoeiras poderão sumir em definitivo.
A primeira construção, a partir da nascente do rio, é a da barragem, que vai inundar pequenas áreas por causa do porte pequeno das centrais. Os lagos que vão se formar terão até 800 metros quadrados.
Neste ponto é que o rio é desviado por um canal artificial. A extensão dessa edificação depende da diferença de altura que existe entre a barragem e a casa de força, onde a energia da usina será gerada pela água.
Quanto maior a altura, menor o comprimento do canal, porque maior é a pressão. Os terrenos de todas essas áreas onde serão feitas as construções já foram comprados pela empresa. Para a abertura dos desvios, que terão até 1.500 metros de extensão, é preciso que áreas paralelas ao rio também sejam usadas.
Para tentar barrar a construção das miniusinas, representantes do setor de turismo de Socorro, com ajuda da prefeitura, fizeram um abaixo-assinado que já conta com mais de 12 mil assinaturas.
O projeto das cinco usinas ainda tem que ser aprovado pelos governos municipal e estadual antes de ser implantado. Em Minas Gerais, diz a empresa Toctao, a resistência tem sido menor.


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