São Paulo, domingo, 29 de dezembro de 2002

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ENTREVISTA

Transplante reduz uso de insulina

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma equipe formada por pesquisadores e médicos realizou o primeiro transplante de ilhotas pancreáticas do Brasil em uma mulher de 45 anos, diabética há 25, que corria risco de morte.
A paciente usa hoje um terço da insulina que usava e deve se submeter mais três vezes ao procedimento. Não corre mais riscos.
O transplante já era feito em dez centros de pesquisa no mundo, em caráter experimental. O projeto brasileiro, idealizado há cerca de oito anos pelo médico Freddy Goldberg Eliaschewitz, 51, só foi possível com a parceria do Laboratório de Biologia Celular e Molecular do Instituto de Química da USP. Foi preciso isolar as ilhotas -estruturas em que é produzida a insulina- do pâncreas de um doador cadáver. Somente diabéticos do tipo 1 que correm risco de morte podem fazer o transplante.

Folha - Por que esse procedimento é melhor do que o transplante integral do pâncreas?
Freddy Goldberg -
O pâncreas é um órgão de função mista. Produz suco digestivo e hormônios, entre eles a insulina. As células que produzem hormônios estão espalhadas, em agrupamentos de cerca de 150 células, como ilhas. O pâncreas tem cerca de 1,2 milhão dessas ilhotas, cada uma tem um terço de milímetro e funciona como um verdadeiro órgão.
O diabético do tipo 1 sofre com a destruição das células que produzem insulina. Dar insulina é reposição, não é uma cura. O Brasil está no quarto lugar no mundo em transplantes de pâncreas. Esse transplante tem alto risco e deixa a pessoa com dois pâncreas, pois o primeiro não é retirado. O implante de ilhotas, feito no fígado, é uma terapia celular.

Folha - O transplante só é indicado quando há risco de morte?
Freddy Goldberg -
Somente para quem tem risco de morte existe uma justificativa moral e ética para tirá-lo das aplicações de insulina e colocá-lo tomando medicação para evitar a rejeição.

Folha - A parceria entre pesquisadores e médicos é uma tendência?
Freddy Goldberg -
Esse projeto precisava de um tratamento que não era o de um laboratório de hospital. Era algo mais sofisticado. Agora a equipe está meio a meio. No futuro, quando houver transplante de informação genética, só vai haver laboratório. O avanço da medicina só será possível com essa ponte. (BL)


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