São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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WALTER CENEVIVA

Mais técnica na política


Não há como impedir o transbordamento do Tietê com soluções políticas, sem técnica, que só agravam os problemas


SE o leitor não tiver idade suficiente para ter testemunhado as enchentes do rio Tietê na primeira metade do século 20, deve ler a respeito para confirmar que a atual temporada de enchentes em São Paulo não é novidade. Ao contrário: as enchentes integraram a vida do paulistano nos 456 anos comemorados há pouco.
Meandros do Tietê, rio de planalto, sem grandes variações de altitude, serpentearam pela cidade, no percurso da entrada, até sair no rumo de Santana de Parnaíba até o rio Paraná. Quando chovia, alagava enormes áreas no que veio a se chamar a Grande São Paulo.
Velhos políticos também prometeram resolver o problema das cheias do Tamanduateí, do Ipiranga ao parque Pedro 2º, e daí até desembocar no Tietê. Sem falar na malária, e nas outras dificuldades para os que moravam nos lados da zona norte.
Prestes Maia, homem sério e competente, há mais de oitenta anos acreditava que, retificando o Tietê, a correnteza fluiria melhor e eliminaria o gargalo de seus meandros. Houve quem o seguisse, mas com a ampliação das áreas utilizáveis, a população aumentada fez crescer o número de vítimas.
Não há modo de criar obras viárias sem pensar na interferência delas no seu entorno e nas proximidades. Não há modo de impedir o transbordamento do Tietê com a contínua diminuição da calha pelo assoreamento, com o ininterrupto depósito de terra e detritos no fundo do rio. Depósitos a serem retirados ano após ano, juntamente com o impedimento de novas entradas de materiais lançados em São Paulo ou antes da chegada dos rios a esta capital. Soluções apenas políticas, sem técnica, terminam agravando mais os problemas do que resolvendo.
Como isso foi possível? Em primeiro lugar nós, eleitores, devemos ter consciência e reconhecer que ainda não valorizamos suficiente nosso voto. O crescimento da cidade sem medidas de infraestrutura tem violado constantemente o direito das vítimas pessoais, com casas destruídas, trânsito perturbado e o patrimônio público ofendido. Claro que a culpa não é de um só prefeito, de um só secretário. O fato concreto é o da reiteração de obras que custaram caro e com frequência foram envolvidas em acusações sérias de improbidade.
Pensando no direito, da prática do ato à sua apuração e às eventuais punições, vê-se que o controle da despesa pública ainda não é satisfatório. Com o passar dos anos, os administradores viram que os mecanismos de verificação dos gastos, da compatibilidade com a extensão e a necessidade dos melhoramentos, foram defeituosos. A reiteração de escândalos pelo Brasil a fora comprova que a apuração é insuficiente.
Hoje, o administrador público tem quase certeza de que aconteça o que acontecer os mecanismos de apuração se tornam mais complexos, não justificando, mas explicando o abuso. O tema do rio Tietê foi bom, mas o problema é de Estados e municípios em geral. Cresce de proporção na Grande São Paulo, com a complexidade da metrópole.
Um dos modos disponíveis para a atuação de todo o povo está no uso da eletrônica, da internet, influindo sobre os centros de decisão. Será a atualização da democracia grega, que era exercida numa praça, com a participação de todo o povo. Hoje pode-se restaurar a praça, com a informática.


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