São Paulo, domingo, 30 de janeiro de 2011

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Marronzinho fica preso mesmo com álibi na CET

Agentes de trânsito dizem que acusado trabalhava a 20 km do local do crime

Há cem dias na cadeia, fiscal responde por morte na zona leste, mas diz que socorria caminhão na zona sul

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

Às 9h45 de 1º de março de 2010, Marcos Alexandre Figueiredo, 45, foi morto à luz do dia na zona leste de SP.
O empresário estava parado em um semáforo, dentro do seu Honda Civic, ao ser alvejado a tiros por um motoqueiro que se aproximou.
O marronzinho da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) Marcos Antonio Cavaião, 41, já completou cem dias na prisão acusado de ter cometido esse crime.
Ele ainda não foi julgado. O mistério é que, segundo depoimentos oficiais de agentes de trânsito e controles internos da CET, Cavaião estava trabalhando naquela manhã -a mais de 20 km do endereço do assassinato.
No exato horário do crime, funcionários e relatórios da companhia apontam que ele socorria, com um guincho, uma carreta quebrada na avenida dos Bandeirantes.
Das 4h18 às 12h01, há registros de atividades de Cavaião a cada hora na zona sul, na presença de outros empregados da CET.
Dois funcionários inclusive foram até a polícia para dizer que acompanhavam as atividades do marronzinho.
Um deles declarou que participou pessoalmente, com Cavaião, do socorro à carreta das 9h04 às 10h05.
A CET decidiu fazer uma sindicância interna para investigar a possibilidade de Cavaião não ter participado do atendimento -no horário que coincide com a morte do empresário na zona leste.
Os resultados estão prontos. Oficialmente, a CET só afirma que eles "estão à disposição da Justiça". A Folha apurou que a sindicância confirma a presença do marronzinho na zona sul.
O processo criminal em que Cavaião é acusado está sob segredo de Justiça -com a justificativa de preservar dados de sigilo telefônico.
As informações que investigado e investigadores disponibilizam, porém, indicariam hoje duas hipóteses.
Ou um inocente está há mais de três meses na cadeia ou há um complô muito sofisticado de empregados da CET (com depoimentos mentirosos, fraudes em relatórios e controles internos) para beneficiar um agente de baixo escalão que ganha R$ 2.738.

TESTEMUNHAS
A acusação contra Cavaião é baseada essencialmente em duas testemunhas.
Uma fez ligações anônimas à polícia e afirmou ter ouvido a confissão do marronzinho -por ciúmes de uma suposta relação do empresário com sua namorada.
Cavaião e a mulher negam inclusive conhecer a vítima. Familiares do homem assassinado também disseram ignorar qualquer vínculo.
A outra testemunha, segundo a Promotoria, presenciou a cena do crime e identificou Cavaião como autor.
Logo depois do assassinato, a consistência desse reconhecimento era alvo de dúvidas do promotor Roberto Tardelli. Na época, ele avalizou a soltura de Cavaião -para responder em liberdade.
Hoje Tardelli considera que esse reconhecimento é importante e defende a prisão do marronzinho -pedida pela promotora Maria Gabriela Steinberg, que deu continuidade às investigações, e acatada pela Justiça.
O novo pedido para prendê-lo, em outubro, usou a justificativa de que Cavaião ameaçou uma testemunha.
Trata-se da responsável pelas ligações anônimas -identificada depois como filha de Maria José Faria Garcia, cunhada dele na época.
Cavaião passou a acusar a cunhada de golpe para tirar dinheiro da família forjando intermediar a sua defesa.
Afirma que ela se dizia procuradora e recebeu R$ 175 mil -para contratar advogados e pagar custas judiciais.
Meses depois, ele descobriu que as ligações anônimas vinham do telefone dela.
O irmão do marronzinho se separou da mulher. E Cavaião entrou com ação contra ela, além de acusá-la de estelionato -crime pelo qual já foi processada antes.


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