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RELIGIÃO
Seguidores fanáticos de padre Cícero vivem em casas sem luz e água encanada e têm todos o mesmo nome
Seita de Juazeiro espera o fim do mundo
PAULO MOTA
em Juazeiro do Norte (CE)
Uma seita de fanáticos fiéis do
padre Cícero Romão Batista adota,
no cotidiano, rituais de penitências e sacrifícios como forma de
salvar a alma diante da iminência
do fim do mundo, profetizada por
eles para ocorrer até o ano 2.000.
Autodenominados de ``aves de
Jesus penitentes do padre Cícero
Romão Batista'', eles são conhecidos popularmente como ``penitentes'' ou ``borboletas azuis'', devido às fardas azuis que usam.
Moram em uma comunidade de
cerca de 40 adeptos, no bairro do
Tiradentes, em Juazeiro do Norte
(528 km de Fortaleza), cidade em
que viveu padre Cícero.
Juazeiro é definida pelos integrantes da seita como a ``terra
prometida por Moisés''. Para eles,
a passagem de padre Cícero pela
cidade foi um sinal de que Deus escolheu Juazeiro como ``porto seguro'' para o final dos tempos.
Eles não definem com precisão o
dia em que o mundo vai acabar,
mas afirmam que será em forma
de fogo. A suposta profecia foi revelada ao líder da seita num sonho
em que padre Cícero lhe deu a missão de organizar um grupo capaz
de ``morrer em vida e orar pela
salvação da humanidade''.
Sem passado
Um dos mandamentos da seita
exige que o fiel negue sua identidade ao aderir ao grupo, renegando
literalmente todo o seu passado.
Nenhum dos ``penitentes'' tem
autorização para dizer o seu nome
e o que fazia antes da adesão.
A seita foi fundada na década de
70 por um pernambucano de
aproximadamente 50 anos, que, a
exemplo de todos homens do grupo, é conhecido como José Aves de
Jesus. Todas as mulheres são conhecidas por Maria Aves de Jesus.
O líder do grupo, que se distingue dos outros por ser corcunda,
justifica a mudança de identidade
de seus seguidores usando uma
das diretrizes da seita.
``Quem participa de nosso rebanho resolveu morrer para a vida
dos homens. Não importa o que
fez no passado, mas sim o que vai
fazer para salvar nossas almas.''
Os ``penitentes'' de Juazeiro são
adeptos da castidade, não participam de festas nem usufruem de
conforto tecnológico. Em suas casas não há energia, água encanada
e relógios. Eles não falam ao telefone nem circulam em automóveis.
Os seguidores da seita costumam
fazer caminhadas de até 120 km em
``missões de pregação'' por cidades vizinhas, como Cajazeiras
(PB), Brejo Santo (CE) e Exu (PE).
Os ``penitentes'' recusam-se a
usar dinheiro e adotam o escambo
como prática comercial. As crianças do grupo não estudam em colégios públicos e se alfabetizam
com os fiéis mais velhos.
Para os ``borboletas azuis'',
Deus fez a noite para os animais e,
por isso, eles se recolhem às 18h e
acordam às 6h. O líder da seita diz
que o grupo não trabalha porque
precisa de tempo para rezar. Seus
rituais duram até 5 horas diárias.
Os ``penitentes'' acreditam que
padre Cícero ``é a reencarnação de
Deus''. Acompanham missas do
lado de fora das igrejas.
Padre Cícero
O padre Cícero Romão Batista
nasceu em Crato (CE), em 24 de
março de 1844, mas foi em Juazeiro que exerceu sua liderança religiosa. Morreu aos 90 anos.
Em 1º de março de 1889, a beata
Maria de Araújo afirmou que uma
hóstia dada pelo religioso transformou-se em sangue ao chegar
em sua boca. O suposto ``milagre''
repetiu-se por dias seguidos e repercutiu em todo o país.
O episódio foi considerado uma
farsa pela igreja. O padre passou a
se dedicar à carreira política -foi
prefeito de Juazeiro e vice-presidente da Província do Ceará.
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