São Paulo, domingo, 30 de março de 2008

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Enduro a pé atrai amantes de aventura

Trekking sobre "pernas" tem mais de 7.000 adeptos no país, que saem em busca de contato com natureza; só em SP, são 1.400

Campeonato de trekking é disputado por 71 grupos, em provas que também atraem famílias e iniciantes; Estado de SP tem dez circuitos

LEOLELI CAMARGO
DA REVISTA DA FOLHA

A previsão da meteorologia era desencorajadora. Domingo nublado, com chuva e temperatura de 21ºC. Clima para um dia debaixo do edredom. Não para um grupo de 282 pessoas, que deixou o conforto da cidade para caminhar no meio do mato, enfiar o pé na lama e ficar com água pelos joelhos.
Para explicar a paixão dos praticantes do enduro a pé, que tem 7.000 adeptos no país, a reportagem foi até o município de Piedade, a 94 km da capital, acompanhar a terceira das 12 etapas do Campeonato Paulista de Trekking deste ano.
O esporte de aventura começou a se difundir no Brasil nos anos 90. Hoje, somente no estado, são dez circuitos diferentes de provas, com etapas que mobilizam mensalmente cerca de 1.400 participantes.
No domingo, 16 de março, a competição reuniu 71 grupos, entre iniciantes e graduados. Os primeiros tinham de cumprir 6.860 m em 2h34min. A meta dos segundos era andar 9.850 m em 2h58min10s.
A largada da prova foi em uma pousada na área rural de Piedade. Em volta, algumas casas, pequenas plantações e muito mato. Às 9h em ponto, as equipes começaram a partir em intervalos de dois minutos.
"É mais difícil do que o Iron Man", diz o coordenador de marketing e triatleta Eloi Catto, 29, referindo-se à prova de triatlon que testa seus participantes até o limite da resistência física. "Aqui o ritmo muda a toda hora. Não é brincadeira."
Junto com a estudante Thais Pires, 26, a comerciante Leda Valverde, 25, a analista de comunicação Fabiana Sudylowski, 27, e a coordenadora de eventos Ligia Vendrami, 27, Eloi integra a equipe Pé na Lama, que esteve pela primeira vez em uma prova de enduro a pé. A única experiência do grupo até então era um curso feito duas semanas antes, em que foram ensinadas noções de navegação e regras do trekking.
Para cumprir o itinerário no tempo certo, cada membro da equipe ficou encarregado de uma tarefa.
Leda e Fabiana ficaram com a contagem dos passos -seguiram todo o trajeto contando cada passada, ao longo dos trechos. Uma das principais dificuldades de um iniciante nesse tipo de esporte é justamente manter um passo regular, já que o itinerário tem subidas e decidas. Às vezes, é necessário caminhar mais rápido ou desacelerar o passo para se manter no tempo ideal.
O enduro a pé não é uma corrida. Quem chega adiantado é penalizado com dois pontos por cada segundo a menos no tempo estipulado para a prova. Os atrasados também perdem um ponto por segundo. Vence quem, ao final do percurso, tiver perdido menos pontos.
"O segredo aqui é regularidade", diz José Carlos Dias, o veterano Zezo, 60, praticante de enduro desde 2003. Neste quesito, os graduados levam vantagem. Como são a "elite" do enduro, eles participam de todas as provas, estão sempre uniformizados e são os que mais investem em equipamentos.
Uma equipe chega a gastar cerca de R$ 600 em uma etapa. Como o enduro a pé é um esporte em que o atleta paga para competir, o nível socioeconômico de quem o pratica é mais elevado. Há médicos, advogados e empresários.
Mais do que tecnologia ou treinamento árduo, no enduro a pé o que faz a diferença é montar bem uma equipe. "Sai em vantagem quem tem um bom contador de passos. Alguém que tenha uma passada precisa e que consiga manter o ritmo", revela Zezo. Na prova de Piedade, ele faz dupla com o filho, Felipe Lopreto, 31.
São 12h10 quando a Pé na Lama chega ao meio do caminho. Até ali, o grupo percorreu 13 trechos, e Leda, a contadora de passos, já acumulava 3.334 passadas. Cansada, ela se anima diante das frutas à disposição dos participantes: "Ai, que delícia, tem caqui", diz. Após uma pausa, o grupo segue em frente.
No totem amarelo que demarca a chegada, é feita a soma dos pontos. A Pé na Lama fica com menos 7.714 e ganha o antepenúltimo lugar na prova.
Para quem chegou em último, a prova foi o menos importante. "Adoro caminhar, e o que me move não é a disputa, mas, sim, a oportunidade de fazer um programa que alivie o estresse", diz a corretora Luana Richter, 28, que fez dupla com o tio Carlos Eduardo Richter, 43.


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