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Enduro a pé atrai amantes de aventura
Trekking sobre "pernas" tem mais de 7.000 adeptos no país, que saem em busca de contato com natureza; só em SP, são 1.400
Campeonato de trekking é disputado por 71 grupos, em provas que também atraem famílias e iniciantes; Estado de SP tem dez circuitos
LEOLELI CAMARGO
DA REVISTA DA FOLHA
A previsão da meteorologia
era desencorajadora. Domingo
nublado, com chuva e temperatura de 21ºC. Clima para um dia
debaixo do edredom. Não para
um grupo de 282 pessoas, que
deixou o conforto da cidade para caminhar no meio do mato,
enfiar o pé na lama e ficar com
água pelos joelhos.
Para explicar a paixão dos
praticantes do enduro a pé, que
tem 7.000 adeptos no país, a reportagem foi até o município de
Piedade, a 94 km da capital,
acompanhar a terceira das 12
etapas do Campeonato Paulista
de Trekking deste ano.
O esporte de aventura começou a se difundir no Brasil nos
anos 90. Hoje, somente no estado, são dez circuitos diferentes de provas, com etapas que
mobilizam mensalmente cerca
de 1.400 participantes.
No domingo, 16 de março, a
competição reuniu 71 grupos,
entre iniciantes e graduados.
Os primeiros tinham de cumprir 6.860 m em 2h34min. A
meta dos segundos era andar
9.850 m em 2h58min10s.
A largada da prova foi em
uma pousada na área rural de
Piedade. Em volta, algumas casas, pequenas plantações e
muito mato. Às 9h em ponto, as
equipes começaram a partir em
intervalos de dois minutos.
"É mais difícil do que o Iron
Man", diz o coordenador de
marketing e triatleta Eloi Catto, 29, referindo-se à prova de
triatlon que testa seus participantes até o limite da resistência física. "Aqui o ritmo muda a
toda hora. Não é brincadeira."
Junto com a estudante Thais
Pires, 26, a comerciante Leda
Valverde, 25, a analista de comunicação Fabiana Sudylowski, 27, e a coordenadora de
eventos Ligia Vendrami, 27,
Eloi integra a equipe Pé na Lama, que esteve pela primeira
vez em uma prova de enduro a
pé. A única experiência do grupo até então era um curso feito
duas semanas antes, em que foram ensinadas noções de navegação e regras do trekking.
Para cumprir o itinerário no
tempo certo, cada membro da
equipe ficou encarregado de
uma tarefa.
Leda e Fabiana ficaram com
a contagem dos passos -seguiram todo o trajeto contando cada passada, ao longo dos trechos. Uma das principais dificuldades de um iniciante nesse
tipo de esporte é justamente
manter um passo regular, já
que o itinerário tem subidas e
decidas. Às vezes, é necessário
caminhar mais rápido ou desacelerar o passo para se manter
no tempo ideal.
O enduro a pé não é uma corrida. Quem chega adiantado é
penalizado com dois pontos
por cada segundo a menos no
tempo estipulado para a prova.
Os atrasados também perdem
um ponto por segundo. Vence
quem, ao final do percurso, tiver perdido menos pontos.
"O segredo aqui é regularidade", diz José Carlos Dias, o veterano Zezo, 60, praticante de
enduro desde 2003. Neste quesito, os graduados levam vantagem. Como são a "elite" do enduro, eles participam de todas
as provas, estão sempre uniformizados e são os que mais investem em equipamentos.
Uma equipe chega a gastar
cerca de R$ 600 em uma etapa.
Como o enduro a pé é um esporte em que o atleta paga para
competir, o nível socioeconômico de quem o pratica é mais
elevado. Há médicos, advogados e empresários.
Mais do que tecnologia ou
treinamento árduo, no enduro
a pé o que faz a diferença é
montar bem uma equipe. "Sai
em vantagem quem tem um
bom contador de passos. Alguém que tenha uma passada
precisa e que consiga manter o
ritmo", revela Zezo. Na prova
de Piedade, ele faz dupla com o
filho, Felipe Lopreto, 31.
São 12h10 quando a Pé na Lama chega ao meio do caminho.
Até ali, o grupo percorreu 13
trechos, e Leda, a contadora de
passos, já acumulava 3.334 passadas. Cansada, ela se anima
diante das frutas à disposição
dos participantes: "Ai, que delícia, tem caqui", diz. Após uma
pausa, o grupo segue em frente.
No totem amarelo que demarca a chegada, é feita a soma
dos pontos. A Pé na Lama fica
com menos 7.714 e ganha o antepenúltimo lugar na prova.
Para quem chegou em último, a prova foi o menos importante. "Adoro caminhar, e o que
me move não é a disputa, mas,
sim, a oportunidade de fazer
um programa que alivie o estresse", diz a corretora Luana
Richter, 28, que fez dupla com o
tio Carlos Eduardo Richter, 43.
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