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INFÂNCIA
Inspeção na unidade de Parelheiros (SP) levou à descoberta de instrumentos supostamente usados para agredir menores
Febem tinha sala de tortura, diz Promotoria
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Promotores de Justiça encontraram ontem em uma sala da
unidade da Febem de Parelheiros
(zona sul da capital) objetos que
eles classificaram como instrumentos de tortura: um cassetete
de metal, duas barras de madeira,
uma "chave chinesa", um "espancador" feito com o bico de um extintor de incêndio e uma corrente
grossa de ferro.
Os instrumentos foram descobertos durante uma vistoria feita
pelos promotores para investigar
denúncias de duas supostas sessões de espancamento, que teriam ocorrido nos dias 15 de março e 14 de abril.
Após ouvir os menores da "ala
verde", que seriam as supostas vítimas de agressões, os promotores foram a uma sala próxima às
celas. O objetivo era tentar encontrar os instrumentos que, segundo o depoimento dos adolescentes, estariam sendo usados para
aplicar castigos físicos.
Os objetos foram localizados
embaixo do tampo de uma escrivaninha que estava encostada na
parede, aparentemente sem uso.
Sobre a mesa havia ainda um arquivo de papéis e algumas peças
de roupas.
Sob o tampo da escrivaninha estava escondida uma barra de madeira feita com um cabo de enxada. Na única gaveta, os promotores encontraram o cassetete de
metal e a chave chinesa (chave
grande e comprida com cabo circular, utilizada, segundo eles, para machucar a parte interna da
base dos dedos das mãos sem deixar marcas).
Os outros instrumentos, encobertos por papéis e sacos plásticos, foram achados no espaço que
deveria estar sendo ocupado por
outras duas gavetas. Uma das barras de madeira estava enrolada
em uma camiseta de malha.
Na sala onde ficava a escrivaninha só estão autorizados a entrar
coordenadores de turno e agentes
de proteção (monitores). Menores disseram que só entram no local para apanhar.
Os promotores Ebenezer Salgado e Wilson Tafner, responsáveis
pela fiscalização, chamaram cinco
adolescentes que teriam apanhado até a sala para que eles fizessem uma "demonstração" da suposta forma de utilização dos instrumentos. As cenas foram gravadas, e a Folha teve acesso à fita.
Segundo os menores, os funcionários encaixam a chave chinesa
debaixo do dedo médio e giram o
cabo do objeto, que é áspero, forçando a base do dedo. Já o bico do
extintor (parte circular), de acordo com os menores, seria utilizado para atingir os internos na região da cintura.
A corrente de ferro, acoplada a
um cadeado encontrado na mesma escrivaninha, seria utilizada
para bater na parte superior das
costas.
Os adolescentes disseram que,
durante os espancamentos, eram
colocados de costas para a parede.
Para evitar marcas, eles teriam as
costas cobertas com toalhas.
Os objetos foram apreendidos e
levados para o 25º DP (Parelheiros), que irá investigar o caso.
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