São Paulo, terça-feira, 30 de abril de 2002

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INFÂNCIA

Inspeção na unidade de Parelheiros (SP) levou à descoberta de instrumentos supostamente usados para agredir menores

Febem tinha sala de tortura, diz Promotoria

GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Promotores de Justiça encontraram ontem em uma sala da unidade da Febem de Parelheiros (zona sul da capital) objetos que eles classificaram como instrumentos de tortura: um cassetete de metal, duas barras de madeira, uma "chave chinesa", um "espancador" feito com o bico de um extintor de incêndio e uma corrente grossa de ferro.
Os instrumentos foram descobertos durante uma vistoria feita pelos promotores para investigar denúncias de duas supostas sessões de espancamento, que teriam ocorrido nos dias 15 de março e 14 de abril.
Após ouvir os menores da "ala verde", que seriam as supostas vítimas de agressões, os promotores foram a uma sala próxima às celas. O objetivo era tentar encontrar os instrumentos que, segundo o depoimento dos adolescentes, estariam sendo usados para aplicar castigos físicos.
Os objetos foram localizados embaixo do tampo de uma escrivaninha que estava encostada na parede, aparentemente sem uso. Sobre a mesa havia ainda um arquivo de papéis e algumas peças de roupas.
Sob o tampo da escrivaninha estava escondida uma barra de madeira feita com um cabo de enxada. Na única gaveta, os promotores encontraram o cassetete de metal e a chave chinesa (chave grande e comprida com cabo circular, utilizada, segundo eles, para machucar a parte interna da base dos dedos das mãos sem deixar marcas).
Os outros instrumentos, encobertos por papéis e sacos plásticos, foram achados no espaço que deveria estar sendo ocupado por outras duas gavetas. Uma das barras de madeira estava enrolada em uma camiseta de malha.
Na sala onde ficava a escrivaninha só estão autorizados a entrar coordenadores de turno e agentes de proteção (monitores). Menores disseram que só entram no local para apanhar.
Os promotores Ebenezer Salgado e Wilson Tafner, responsáveis pela fiscalização, chamaram cinco adolescentes que teriam apanhado até a sala para que eles fizessem uma "demonstração" da suposta forma de utilização dos instrumentos. As cenas foram gravadas, e a Folha teve acesso à fita.
Segundo os menores, os funcionários encaixam a chave chinesa debaixo do dedo médio e giram o cabo do objeto, que é áspero, forçando a base do dedo. Já o bico do extintor (parte circular), de acordo com os menores, seria utilizado para atingir os internos na região da cintura.
A corrente de ferro, acoplada a um cadeado encontrado na mesma escrivaninha, seria utilizada para bater na parte superior das costas.
Os adolescentes disseram que, durante os espancamentos, eram colocados de costas para a parede. Para evitar marcas, eles teriam as costas cobertas com toalhas.
Os objetos foram apreendidos e levados para o 25º DP (Parelheiros), que irá investigar o caso.



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