|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENSINO SUPERIOR
Para Maurice Quénet, alvo é formação geral
Universidade não deve focar mercado, afirma responsável pela Sorbonne
DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O papel de uma universidade
não deve ser o de preparar para o
mercado de trabalho, mas o de
dar uma formação geral aos jovens. A polêmica afirmação é de
Maurice Quénet, responsável pelas universidades parisienses, que
não mudou de opinião após os
violentos protestos dos estudantes franceses contra a lei do primeiro emprego, encerrados
quando o governo engavetou a
proposta (leia abaixo).
O ápice da crise ocorreu durante a madrugada de 10 para 11 de
março, quando cerca de 300 manifestantes invadiram a Sorbonne
(onde fica a mais antiga universidade da França) e queimaram livros para pressionar o governo a
não aprovar a lei. Quénet chamou
a polícia. Sem julgar se a onda de
protestos é justificada ou não, ele
conversou com a Folha
por e-mail.
Folha - Qual deve ser o papel de
uma universidade hoje na preparação para o mercado de trabalho? O
sr. acredita que as universidades
francesas preparam esses estudantes para um mercado competitivo?
Maurice Quénet - A universidade
não tem de preparar o jovem para
ter os requisitos empregatícios. A
universidade francesa prioriza o
processo de aprendizagem como
um todo e se preocupa em ser um
local de formação cultural. Talvez
isso seja visto como uma característica francesa, mas todas as tentativas que foram feitas antes para
reduzir a lacuna entre a universidade e as empresas têm tido um
sucesso limitado.
Folha - Professores e alunos concordam com essa visão?
Maurice Quénet - Professores,
assim como os estudantes, consideram que a universidade deva ficar fora do círculo dos negócios.
Então, com exceção de algumas
áreas (como administração, direito e economia, em alguns momentos, e os cursos de farmácia e
medicina), a universidade francesa não está conectada com os
negócios.
Nós não podemos afirmar que a
nossa universidade prepara estudantes para o mercado. Isso é o
que as "Grandes Ecoles" [faculdades de formação mais específica,
como o ITA no Brasil] fazem.
Folha - Muitas comparações foram feitas entre os protestos e as
manifestações de maio de 68. O
que há em comum e o que há de diferente entre os dois momentos?
Maurice Quénet - Acho que não
podemos comparar a atual situação com maio de 68 como alguns
nostálgicos estão fazendo. Maio
de 68 era uma época cheia de emprego e as manifestação marcaram a ruptura entre a juventude
da classe média e a sociedade de
consumo, que eram contra.
Hoje é outra história. Os rebeldes, os que são contra o projeto,
protestam para ter acesso à sociedade de consumo. Eles reivindicam a oportunidade para ser um
consumidor. Para resumir, do
ponto de vista social, 2006 é totalmente o contrário de 1968.
Texto Anterior: Na Faculdade de Direito, catraca é item polêmico Próximo Texto: Após protestos, governo desistiu de lei Índice
|