São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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ENSINO SUPERIOR

Para Maurice Quénet, alvo é formação geral

Universidade não deve focar mercado, afirma responsável pela Sorbonne

DANIELA TÓFOLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O papel de uma universidade não deve ser o de preparar para o mercado de trabalho, mas o de dar uma formação geral aos jovens. A polêmica afirmação é de Maurice Quénet, responsável pelas universidades parisienses, que não mudou de opinião após os violentos protestos dos estudantes franceses contra a lei do primeiro emprego, encerrados quando o governo engavetou a proposta (leia abaixo).
O ápice da crise ocorreu durante a madrugada de 10 para 11 de março, quando cerca de 300 manifestantes invadiram a Sorbonne (onde fica a mais antiga universidade da França) e queimaram livros para pressionar o governo a não aprovar a lei. Quénet chamou a polícia. Sem julgar se a onda de protestos é justificada ou não, ele conversou com a Folha por e-mail.

Folha - Qual deve ser o papel de uma universidade hoje na preparação para o mercado de trabalho? O sr. acredita que as universidades francesas preparam esses estudantes para um mercado competitivo?
Maurice Quénet -
A universidade não tem de preparar o jovem para ter os requisitos empregatícios. A universidade francesa prioriza o processo de aprendizagem como um todo e se preocupa em ser um local de formação cultural. Talvez isso seja visto como uma característica francesa, mas todas as tentativas que foram feitas antes para reduzir a lacuna entre a universidade e as empresas têm tido um sucesso limitado.

Folha - Professores e alunos concordam com essa visão?
Maurice Quénet -
Professores, assim como os estudantes, consideram que a universidade deva ficar fora do círculo dos negócios. Então, com exceção de algumas áreas (como administração, direito e economia, em alguns momentos, e os cursos de farmácia e medicina), a universidade francesa não está conectada com os negócios.
Nós não podemos afirmar que a nossa universidade prepara estudantes para o mercado. Isso é o que as "Grandes Ecoles" [faculdades de formação mais específica, como o ITA no Brasil] fazem.

Folha - Muitas comparações foram feitas entre os protestos e as manifestações de maio de 68. O que há em comum e o que há de diferente entre os dois momentos?
Maurice Quénet -
Acho que não podemos comparar a atual situação com maio de 68 como alguns nostálgicos estão fazendo. Maio de 68 era uma época cheia de emprego e as manifestação marcaram a ruptura entre a juventude da classe média e a sociedade de consumo, que eram contra.
Hoje é outra história. Os rebeldes, os que são contra o projeto, protestam para ter acesso à sociedade de consumo. Eles reivindicam a oportunidade para ser um consumidor. Para resumir, do ponto de vista social, 2006 é totalmente o contrário de 1968.


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