São Paulo, sexta, 30 de maio de 1997.



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Enterro no Rio tem tiros e agressão

da Sucursal do Rio

Tiros foram disparados da favela Águia de Ouro contra policiais que vigiavam o cemitério de Inhaúma (zona norte do Rio) uma hora antes do início do enterro de José Rogério Soares, suposto líder dos traficantes da favela do Jacarezinho.
Policiais militares de três batalhões invadiram a Águia de Ouro, vizinha ao cemitério, mas não conseguiram encontrar os autores dos disparos.
Segundo a PM (Polícia Militar), a quadrilha de traficantes da Águia de Ouro era aliada do bando que Soares, o Rogerinho, supostamente comandava no Jacarezinho (zona norte).
Realizado às 15h30, o enterro de Rogerinho foi tenso. Além do tiroteio, diversas pessoas apedrejaram jornalistas.
Rogerinho, 32, era apontado pela polícia como um dos mais poderosos traficantes em atividade no Rio. Anteontem de manhã, ele e mais oito suspeitos de integrar a quadrilha de traficantes do Jacarezinho foram mortos por PMs.
Três mortos foram enterrados no cemitério São Francisco Xavier (Caju, zona norte): José Patrício Pereira, 24, Márcio dos Santos Monteiro, 22, e José Wilson Alves dos Santos, 24. Em Inhaúma, também foi enterrado Ronaldo Lourenço da Silva, 34.
No Caju, moradores do Jacarezinho atiraram pedras e agrediram jornalistas. O fotógrafo Carlo Wrede, do "Jornal do Brasil", foi derrubado a chutes e teve parte do equipamento roubado. Ele feriu pernas e braços.
Por causa dos tumultos no Caju, a PM montou um esquema especial de segurança para o enterro de Rogerinho.
O cemitério de Inhaúma foi ocupado por 65 PMs dos batalhões do Méier, Tijuca e Rocha Miranda (zona norte). Dez PMs usavam roupas comuns e conseguiram se aproximar das cerca de 150 pessoas que acompanharam o enterro. Por ordem do chefe da operação, coronel Joel Domingos, não houve prisões.
"Há mulheres e crianças aqui. Não queremos botar a vida de inocentes em risco. Uma prisão pode resultar em confusão. O importante é que a operação no Jacarezinho foi repleta de êxito. Só morreram marginais", afirmou o coronel.
Três ônibus da empresa Braso Lisboa levaram moradores do Jacarezinho para o enterro. O clima era de revolta. "Ele (Rogerinho) era um pai para a gente", gritou uma jovem para os jornalistas, xingados de "urubus".
Alguns moradores foram armados ao cemitério. Um deles mostrou um revólver para os jornalistas. "Se chegar perto vai morrer", avisou ele.
A sepultura de Rogerinho foi coberta com coroas de flores enviadas por "amigos de Bangu 2 (presídio de segurança máxima na zona norte do Rio)" e moradores da favela Parque União e do morro São João.


Colaboraram Fernanda da Escóssia e Roni Lima, da Sucursal do Rio



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