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SEM-TETO
Líderes estão criando associação com o nome dos companheiros mortos no confronto com a Polícia Militar
Ex-invasores contestam cadastramento
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local
Os ex-invasores do conjunto habitacional Juta 2, na Fazenda da
Juta, em Sapopemba (zona leste de
São Paulo), cuja desocupação pela
PM, no último dia 20, gerou conflito que resultou na morte de três
pessoas, estão criando uma associação própria.
Segundo os novos líderes, pessoas que não participaram da invasão estariam tentando se cadastrar no programa habitacional
previsto para os ex-invasores.
O anúncio foi feito ontem, último dia dado pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São
Paulo) para o cadastramento de
ex-invasores.
Até as 13h de ontem, quando a
fila de cadastramento já estava
próxima do fim, 416 famílias haviam sido cadastradas.
A associação deve estar formada
até 8 de junho. Na data está previsto um encontro entre os sem-teto e
o secretário da Habitação, Dimas
Ramalho, na Fazenda da Juta.
Segundo os ex-invasores, o secretário deve anunciar no evento a
área que será destinada para o mutirão que a futura associação pretende manter.
A associação deverá ser batizada
com uma sigla lembrando o nome
dos três mortos no conflito: Crispim José da Silva, Jurandir da Silva
e Geracir Reis de Moraes.
Aproveitadores
Um dos responsáveis pela criação do grupo, o operário desempregado Paulo Grego, 33, diz que
muita gente tentou se aproveitar e
se inscreveu, mesmo não tendo
participado da invasão.
Grego diz que a futura associação entregou anteontem à Secretaria da Habitação uma lista própria
com os nomes dos chefes de 454
famílias que estavam morando
nos 448 apartamentos.
"Em cada prédio havia um ou
dois responsáveis, que têm as listas
completas, por bloco."
O número de famílias é maior
que o de apartamentos, segundo
Grego, porque houve casos de
mais de uma família dividindo um
só apartamento invadido.
O grupo pretende confrontar a
própria lista com a da CDHU.
"Quem não estava entre nós não
participará da associação", afirmou Grego.
Segundo Grego, o movimento
não tinha uma liderança própria.
"Alguém foi procurar o Ademar
(Luiz Machado, líder do Movimento dos Sem-Terra do ABC) para dar um apoio, já que ele tinha
experiência em ocupações."
Além de Grego, formam o embrião do grupo Nelson Daniel da
Silva, o Suplicy, cuja prisão gerou
o confronto entre sem-teto e PMs,
e Luiz Antônio Amêndola, cunhado de Crispim, morto no conflito.
"A gente sabia que seria difícil
conseguir os apartamentos. O que
a gente queria era poder negociar
com o governo", disse Amendôla.
Segundo Grego, os ex-invasores
não acreditavam em confronto.
"A gente pretendia resistir, sim,
para fazer pressão. Ninguém imaginava que a PM iria atirar. O máximo que esperávamos era tomar
umas 'cacetadas'."
CDHU
Roberto Arantes, do departamento social da CDHU, disse que a
companhia só tomou conhecimento oficial da lista dos ex-invasores anteontem, quando o grupo
esteve na Secretaria da Habitação.
Segundo Arantes, a CDHU confrontará os dados de seu cadastramento com a lista dos invasores.
Arantes lamentou o fato de as listas não terem surgido antes. "Se já
tivéssemos a lista, o cadastramento já teria terminado."
Segundo Arantes, antes da reintegração de posse na Juta, a CDHU
tentou, sem resposta positiva dos
invasores, formar uma comissão
com dois representantes de cada
prédio.
Arantes afirma que a CDHU ainda não sabe qual destino terá o
grupo cadastrado. "Precisamos
terminar o perfil socioeconômico
dessas pessoas para saber se elas
vão querer participar de sorteio de
apartamentos prontos ou de mutirão."
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