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São Paulo, sexta-feira, 30 de maio de 2003

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SAÚDE

Só 36% dos 4.300 médicos entrevistados em pesquisa preocupam-se com o diagnóstico de disfunção erétil em seus pacientes

Estudo revela "desatenção" a problema sexual

DA REPORTAGEM LOCAL

O médico não pergunta durante a consulta e o paciente tenta resolver o problema sexual sozinho, principalmente no balcão da farmácia. Segundo estudo sobre disfunção erétil divulgado ontem em São Paulo, apenas 36% dos médicos avaliados investigam a saúde sexual de seus pacientes frequentemente ou sempre.
A investigação deveria fazer parte das consultas médicas, ainda mais no caso dos profissionais avaliados na pesquisa.
Foram ouvidos 4.300 médicos, principalmente clínicos gerais (41,1%), cardiologistas (18,8%) -pois a disfunção erétil é também um sinalizador de problemas no coração -e urologistas (12,7%). "O paciente entra e sai da consulta e é perdida a oportunidade do diagnóstico. Comparo à era pré-Aids, quando ninguém perguntava sobre o comportamento sexual", afirma Edson Duarte Moreira Júnior, pesquisador-associado da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) na Bahia e um dos responsáveis pelo estudo.
A disfunção erétil se caracteriza por uma incapacidade persistente para obter e manter uma ereção adequada para uma relação sexual. Dos 71.503 pacientes que responderam a questionários do estudo Avaliar, mais da metade mostrou ter problemas de ereção -resultado que, segundo os pesquisadores, é semelhante ao encontrado em pesquisas anteriores no país e fora do Brasil.
O uso de remédios foi a resposta mais frequente quando os pacientes foram questionados sobre o que faziam para combater a dificuldade de ereção. Segundo o estudo, 53,3% usaram medicamento, mas apenas 36,1% buscaram ajuda médica. Falar com a parceira foi outra resposta frequente.
Do total de avaliados, 31,2% sofriam de hipertensão arterial e 18,1% tinham colesterol alto.

Financiamento
O projeto Avaliar tem o financiamento do laboratório Pfizer, produtor do Viagra, droga contra a disfunção erétil líder de mercado. A empresa não informou quanto gasta em pesquisas nessa área e na de outras doenças, mas calcula faturar US$ 60 milhões por ano com a venda de seu remédio. Planeja abocanhar mais 30% do mercado em dois meses.
A divulgação do estudo ocorre no momento em que a droga da Pfizer passa a enfrentar dois concorrentes de peso, lançados recentemente: o Levitra (vardenafil), dos laboratórios Bayer e GlaxoSmithKline, e o Cialis (tadalafil), do laboratório Eli Lilly.
Assim como a Pfizer, as duas empresas também investem pesado em estratégias de marketing.
De acordo com o laboratório e os coordenadores do estudo -além de Borges, a psiquiatra Carmita Abdo, da Faculdade de Medicina da USP-, o projeto Avaliar é a maior pesquisa sobre disfunção erétil já feita. A Sociedade Brasileira de Urologia também é realizadora do estudo.
A maioria dos homens com disfunção tinha o problema associado ao diabetes e a doenças do coração. O risco para problemas de ereção, numa escala decrescente, mostrou ser maior entre fumantes, seguidos dos sedentários e dos que abusam do álcool. A mudança de hábitos é a melhor maneira de prevenir o problema.
As drogas de alto custo não são sempre necessárias. Como diz Abdo, a disfunção erétil é um marcador de saúde, que pode ser sinal de outros problemas, como depressão. Só o diagnóstico médico pode apontar qual é a causa e a melhor saída.
(FABIANE LEITE)


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